Anja
Como pode as tuas curvas
Me chamarem a atenção?
Chega perco o rumo, o prumo
E, então, vejo-me sem chão!
Tatear suavemente
O teu lindo corpo nú,
Faz-me viajar, princesa,
Querendo somente tu.
Teus afagos caridosos,
Os teus beijos docemente...
Para me tirar do caos
Que contemplo em minha mente.
É que vivo intensamente
Sem cúmplices e sem par,
Pranteando para ti
Que não vens... para me olhar.
Não vens me afagar gostoso
Com toques angelicais,
Nem me dar teus ternos beijos
Que me põem noutro cais.
Ver o meu estado punge,
Minha dor, o meu martírio...
E por que tu não desejas
Me tirar deste delírio?
Tal qual a sereia rara
Ludibria o marinheiro,
Gostaria que estivesses
Me afagando o tempo inteiro.
Com os teus dedos amenos,
Com tua pele suave...
Apalpando cada parte
Do meu corpo, cada clave...
Cada curva e cada músculo
Com carinho singular...
Sem querer ver o crepúsculo,
Quando o sol vem a raiar.
Já no término da noite,
Quando nasce a nova aurora,
Ver os teus olhos castanhos
Dizer: - Sou tua senhora!
Como gostaria, linda
De ouvir tua voz singela
E esperar um "eu te amo"
De arrepiar, vindo dela.
E eu suplico, anja formosa
Que dedilhes com teus dedos
O meu corpo afogueado,
Que tires todos os medos...
Os teus, os meus. Como almejo
Sentir tanto o teu regaço,
Para te fazer segura,
No aconchego do meu braço.
Porque não sou peça fora
Ou que é largada, no jogo.
Estou dentro, sou só teu!..
Vejas bem este meu rogo.
Sofri horrores na vida,
Também sei que tu sofreste
E por que nós não teríamos
Uma chance apenas neste
Lance bonito, inefável,
E, diria, apaixonado?!
Às vezes a vida dá
Para nós um bem achado!
Às vezes perdemos por
Sentir, do fracasso, o medo
Do porvir que é tão incerto,
Pois não revela o segredo.
E eu tenho plena certeza
Que mesmo entre nossas dores
É a vida que nos concede
Este tudo entre os amores...
Amores acres ou ledos,
Amores tristes, felizes,
Com deslizes muito insanos
E outros para as cicatrizes.
Amores que apenas vêm
Para nos dar esperança
De alegria, num futuro,
Que a mente já não alcança.
Amores que surgem sóbrios
A comover nossa história
E depois partir do nada
Pra guardarmos na memória.
Enquanto vejo este lance
Com as minhas vistas turvas
Em que quero derreter-me
Em todas as tuas curvas...
Sentir o que nunca deste
E o que nunca ofereceste,
Enquanto me doo inteiro
Para o teu corpo, só este:
Este que me agrada e faz
Com que eu viaje demais,
Veja amplamente que tu
Me tira dos vendavais.
Os teus mimos de mulher
Eu anelo, e muito sonho,
Por isso em meu coração
Que nestes versos proponho:
Uma chance, ó linda anja
Procure somente dar
Para nós, num lindo enlace,
Que nos seja salutar.
Pois quando as ondas bravias,
Sopradas pelo tufão,
Vierem bem contra nós
Encontrará coesão.
Companheirismo singelo,
Rígido como penedo,
Afeto que persevera
Na escuridão ou no medo.
Porque assim toda a lembrança
Que tivermos, ó querida
Será de luta, vitória
E história pra toda vida!