Embriagado

Tomou absinto

Ali quieto ficou,

Pensava: "-O que sinto

No peito, é tudo que restou".

Seu pensamento voava

Como se ele fosse assim,

Uma flor que desabrochava

Solitário num belo jardim.

Bebeu mais um gole devagar

Sua vida parecia vir

Em sua memória de mansinho,

E o gosto doce voltou a sentir

Era tão forte a sensação

Que seu corpo arrepiou

Sua vontade de vê-la era tanta

Que seu olhar se anuviou

O olhar de fogo dela apareceu

Refletido ali à sua frente

E mais uma vez sentiu-se sozinho

Deixando porem seu corpo quente

O absinto tomou conta de si

Ele bebeu mais uns goles para se embriagar

Talvez assim dormisse e com ela sonhasse

Chegando a senti-la ali a lhe amar.

Assim ele por ali ficou

A pensar e a beber

Cada vez queria sentir

Aquele amor em sonhos a lhe aquecer

Um dia resolveu que ia

Para bem longe dali

Tiraria de vez aquele amor alucinado

E a solidão arrancaria finalmente de si.

Raimunda Lucinda Martins (Nelremar)