LIVRO DAS HORAS
Do cerne da minha poesia
No afã dum amplo perfume
Refaço-me em rimas baldias
Ao gosto das notas em costume.
Resgato do inexplicável
O verso que brota do nada
Aonde o tudo implacável
Revivo como em letra alvejada.
A tela hoje é tão insensível
Ao todo meu sentido exato!
Mas nos livros nunca sou perecível
Congelo-me em mil artefatos.
Do exato do todo meu sentido
Às sensações abstratas
No concreto dum surrealismo
Sou letras... nunca faço trapaças!
Dos livros ser o mesmo cheiro...
Das páginas sempre recicladas
E neles mergulhar no tempero
Das rimas doces às amargas.
Cenário ser do que nunca nos veio
Aos campos da vida intacta
De tinta letrada aos veios
Da porta que só foi grafitada.
Das páginas recém poetadas
Nos livros do mundo inteiro!
Ao bolso das longínquas estradas
Dos sonhos tão vis passageiros...
Ser beijos então proibidos
Abraço ora tão apertado
Do olhar que de tão distraído
Sequer pode ser registrado.
Nas mãos em parágrafos erguidos
Destinos sempre tão castigados...
Ser versos só meus recolhidos
Poemas que os tracei no que grafo.
Dos livros que pude abrí-los
Com a textura das tantas histórias...
Me prefaciei ao inserí-los
Nas rotas sempre aleatórias.
Poemas os ergui de improviso
No todo que corre apressado
Fiz pacto com o tempo que visto
A espera de registrar os meus passos.
Depois os vedei com afinco
Nas capas tão bem ilustradas...
Das noites que trago em absinto
Fiz céu de nuanças estreladas.
Ali jazerá o que sinto,
Nas páginas nem sempre acessadas...
Ao leo do que corre ao perigo
Das horas tão desacreditadas.