AOS ACROBATAS
I
Quem dera ser um passarinho
E voar ao infinito sem fim!
Mas depois retornar ligeirinho
A pousar dentro do seu jardim!
II
Cruzar o oceano das cores
Qual gaivota ou qual simples pardal...
Num segundo chegar aos Açores!
Contornar o sobrenatural.
III
Saltitar no rochedo tão duro
Sob o azul em tenda maior
Na antítese mais terna do mundo!
Encantar todo o derredor...
IV
E num voo bem alvoroçado...
Em rasante pelas águas do mar
Mergulhar sem morrer afogado
Acrobata da vida...a cantar!
V
Quem dera ser só passarinho!
Dentre flores poder levitar...
Pelo néctar de odores bem finos
Ser sem dores!-ser só ser a voar.
VI
No recanto mais alto da noite
Bem seguro poder sonecar
Sem da vida enxergar os açoites,
Não ouvir a natureza chorar.
VII
E a todos despertar bem cedinho
Madrugada já a anunciar...
O meu canto bem afinadinho,
À Terra toda assoviar!
VIII
Passarinho nunca soa maldade:
Sobrevoa o todo tão desigual!
Não faz acepção das cidades
O seu canto é agregação natural.
IX
Revoar pelo tempo relativo
Ser somente primavera e verão!
Se outono não ser voo aflito
Se inverno... não ser "ser solidão".
X
Quem dera ser um passarinho!
Pelas asas da imaginação...
Revoar e fazer o meu ninho
No aconchego do seu coração.
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Nota da autora:
Refazendo um poema que perdi pelos meus escritos, umas quadras num mesmo tema.
Afinal...ao menos em tese poética, somos todos sempre passarinhos, embora sempre sobre novos horizontes.