O UMBRAL

No sereno da noite escura meu coração não serena;

a alma sofre, pois a paciência é pequena.

No orvalhar da noite meus pensamentos tremem,

e as reações de outrora não sanadas ainda gemem.

Por onde ando? Eis que por toda parte há o caos.

Estou a caminhar ao lado dos bons ou dos maus?

Os transeuntes parecem seres em decomposição

e agora o remorso atroz está a corroer meu coração.

Uma multidão que se alimenta de restos e do ódio.

Bandos de prisioneiros voluntários da paixão e do ócio.

Nessas paragens gritos histéricos são tão normais!

Os dias e as noites parecem sempre sombras iguais.

Aqui onde me encontro há lamentos e ranger de dentes.

Há risos desvairados, rusgas, sexo e pobres doentes.

Ora, estamos todos caminhando sobre uma lama fétida,

numa terra de vícios, dores, sem honra, lei e sem ética.