E POR FALAR EM ASSOMBRAÇÃO
Quem nunca teve medo em sua infância desses seres lendários, desses mitos que vêm povoando o imaginário popular? Ou, se não teve medo, quem nunca se encantou com eles?... Eu sempre viajei nas histórias que minha mãe me contava, algumas delas ouvidas da mãe dela, minha avó, que depois de viúva nunca teve medo de morar na roça, no meio do mato, completamente só. Minha avó Maria Elisa era uma mulher corajosa.
Hoje em dia, se fala mais é em vampiro. Mas apresentados de forma romântica, como se fossem belos e formosos príncipes e não aqueles morcegos sanguinários. Quem viu a saga Crepúsculo sabe do que estou falando. Mas nada como um boto do Amazonas, emprenhador de donzelas. Ou a cobra grande, assustadora... Ou mesmo o Curupira, que para alguns é Caipora ou Caapora, com seus pés virados para trás. E o que dizer do Saci-Pererê, fazendo brasas passar por entre o furo das mãos? Mulas sem cabeça sempre me fascinaram. Delas, sei até a cor do chapéu... Mas isso aqui já tá virando quase uma crônica. Vamos às quadrinhas...
E POR FALAR EM ASSOMBRAÇÃO
Eu já vi cachorro louco
e vi muita assombração,
lobisomen ficar mouco
no pipoco do trovão.
Já vi mula sem cabeça
suspirando de paixão.
E fantasma, ora essa,
com medo de escuridão.
Vi saci de duas pernas,
curupira-pé-pra-frente,
vi sereia pós moderna,
boitatá arrastar corrente.
Vi até alma penada
com peito de silicone,
e usando apaixonada
celular e telefone.
Vi uma bruxa de vassoura,
nesse mundo tem de tudo:
tem a cobra avoadora,
e até bicho cabeludo.
Dizem que é na lua cheia
que o bicho pode pegar,
cobra grande é coisa feia
faz cabelo arrepiar.
Eu adoro esses mistérios,
neles fico a cismar:
não me assusta cemitério
e nem lobos a uivar.
Minha avó contava histórias
que eu não vou contar aqui:
boto, iara e caipora,
diz que viu até saci.
Quem tem medo de escuro,
dorme é de luz acesa.
E diz sempre: -Te esconjuro!
Reza o terço, com certeza.
Quem tem fé no Criador,
dorme sempre bem tranquilo.
Medo afasta com vigor
pois de Deus sabe que é filho.