Amar
E que zorra de palavra é essa
Que deixa tanta gente aflita
Com medo de ouvir e ser dita
E se diz, quase não confessa?
Uma palavra tão singela
Mas que amedronta demais
Até o homem mais sagaz
Tem medo de ouvir ela
É só um verbo transitivo
Que se for mal conjugado
Pode até ferir um bocado
Mas nada de definitivo
Tem muita gente que corre
Outras estão sempre procurando
E mesmo não a encontrando
Só desiste depois que morre
Quando dito no passado
Pode trazer um pouco de dor
E é preciso se dar valor
Para não viver amargurado
Se é dita no presente
Está vivendo muito bem
Fazendo até sorrir além
Por se viver intensamente
Mas se é dito no futuro
Parece mais ser um sonho
E ai então eu proponho
Se arriscar no obscuro
Mas não consigo entender
Como uma palavra boa
Quando dita por uma pessoa
Faz a outra estremecer
Por que há tanto medo?
Não importa quem a diga
Pode ser até uma amiga
E pode vir tarde ou cedo
Pra alguns significa felicidade
Pra outros, pode parecer prisão
Mas lhe digo de antemão
Não há coisa melhor, é verdade
Se pudesse diria todo dia
Sem ter medo de mentir
Já que só posso a proferir
Se estou mesmo em alegria
Bom seria sempre ouvi-la
De alguém que me entende
O meu peito logo se rende
Só de ouvir, dilata a pupila
Fico triste ao concordar
Que a palavra que lhe digo
Hoje já não traz abrigo
Já que a dita é AMAR
Do amor não se quer ouvir
O que será daqui pra frente
Sem amor, sou indiferente
Nem vou conseguir dormir
Uma pena achar cedo assim
Dizer que amor só vem depois
Isso não se aplica a nós dois
Ou pelo menos, falo por mim