DITADOS POPULARES POR UMA VISÃO FLORESTAL: MADEIRA DE DAR EM DOIDO
Moacir José Sales Medrado[1]
Em meio à complexidade da ciência florestal, há um ditado popular que sempre me intrigou: "madeira de dar em doido". Para muitos, pode parecer apenas uma expressão curiosa, mas para quem se debruça sobre as nuances da natureza, ela revela uma sabedoria profunda sobre a relação entre humanos e florestas.
Na minha experiência de Embrapa Florestas aprendi com os amigos Paulo Ernani, José Carlos e Carpanezzi que compreender as características e propriedades da madeira não é apenas uma questão técnica, é um diálogo com a própria essência da floresta. Cada espécie de árvore carrega em si um universo de possibilidades e desafios, moldados por suas propriedades físicas e mecânicas. O manejo florestal, portanto, torna-se uma arte de equilibrar necessidades humanas com as singularidades de cada árvore.
Ao avaliar a qualidade da madeira, somos confrontados com surpresas e obstáculos. Nós, rachaduras, torções - cada imperfeição na madeira conta uma história, talvez de um vento forte que soprou anos atrás ou de um solo que não era tão acolhedor. Essas peculiaridades não apenas comprometem a resistência da madeira, mas também nos ensinam sobre a resiliência e adaptabilidade da natureza.
Na seleção de espécies para determinadas aplicações, cada decisão é um testemunho da diversidade da floresta. A densidade e dureza da madeira, sua estabilidade dimensional - tudo isso se entrelaça na tapeçaria de escolhas que determinam o sucesso ou fracasso de um projeto. E aqui reside a loucura encantadora: na busca pela madeira perfeita, descobrimos a imperfeição e a beleza inerente a cada espécie.
Os estudos em ciência florestal, com seus testes físicos e mecânicos, são mais do que avaliações técnicas; são uma homenagem à complexidade da natureza. Essas análises nos ajudam a desenvolver diretrizes para um manejo florestal sustentável, respeitando as peculiaridades de cada espécie e promovendo um equilíbrio entre uso e conservação.
"Madeira de dar em doido", portanto, é mais do que um ditado. É um lembrete da nossa responsabilidade para com as florestas. Em cada pedaço de madeira, há uma história, um desafio e uma oportunidade para aprender e crescer. A ciência florestal não é apenas sobre árvores; é sobre respeitar e entender as vozes sutis da natureza, que, se ouvidas com atenção, podem nos levar a descobertas surpreendentes e soluções sustentáveis.
[1] Engenheiro – Agrônomo (UFCE); Especialista em Planejamento Agricola (SUDAM/SEPLAN-Ministério da Agricultura); Doutor em Agricultura (ESALQ/USP); Pesquisador Sênior em Agrofloresta (Embrpa-aposentado)