Decálogo da Imbecilidade

1 - A imbecilidade é a faceta mais horrenda da ignorância, pois é um estado de comportamento com baixíssimos índices de bom senso e, por ser imbecil a condição, não há nela nem a atitude anti-ética (ética entendida como um senso de justiça) do dissimular, de um estratagema perverso.

2 - Ao imbecil, dois fins claros no que concerne sua imagem no jogo social: 1) receber as vestes do ridículo e/ou 2) ser pessoa malquista por outrem.

3 - O imbecil não será discreto, agindo na cadência da consciência que lhe está à disposição.

4 - O imbecil não tem consciência de sua imbecilidade e, esta última, quando denunciada por outrem, não será entendida enquanto tal pelo imbecil.

5 - A vida colocará o imbecil em muitas situações de bifurcação (ou encruzilhada) de modo que este permaneça na consciência condizente à imbecilidade ou siga outro rumo avante a níveis de consciência mais elevados.

6 - Pode-se viver uma vida inteira como imbecil e feliz morrer.

7 - O choque da tomada de consciência acerca da própria imbecilidade pode ser devastador ao indivíduo, colocando-o em um estado de não-ação e remorso que farão pipocar nódulos no ser, sempre que este recordar imbecilidades pretéritas.

8 - O choque da tomada de consciência acerca da imbecilidade pretérita, se acaso bem assimilado, promete o alvorecer da sabedoria; a flor de lótus é linda e vem da lama!

9 - Ainda que exista modificação interna e alcance de patamares elevados de consciência, o fenômeno da imbecilidade é estritamente social e de imagem social (sócio-imagético). A estruturação do jogo social se dá na percepção de primeiras impressões ou impressões marcantes, portanto, aquele outrora mergulhado na imbecilidade, e que, manifestadamente laborou-se, transformando-se em notável figura, permanecerá imbecil para aqueles que testemunharam sua imbecilidade: pleitear aceitação de sua atual condição de ex-imbecil às testemunhas deste passado, é regressão à imbecilidade.

10 - Uma distinção: o gênio, o sábio e o ardiloso podem vestir suas ações com as roupas da imbecilidade: tal ato é semeadura. O imbecil nada semeia, pois imbecil é.