Cuidado ao formular pedidos: eles podem ser atendidos

CUIDADO AO FORMULAR PEDIDOS, ELES PODEM SER ATENDIDOS

Miguel Carqueija

“Súplica cearense”, de Gordurinha e Nelinho, com gravação original do primeiro (1960) e depois com Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e outros artistas, é uma curiosa canção onde o sertanejo lamenta que sua oração tenha sido atendida ao pé da letra pelo Criador. Revoltado com a seca que lhe exterminava plantação e criação ele fez um pedido enfezado:

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado

Que de joelhos rezou um bocado

Pedindo pra chuva cair sem parar”

E foi atendido, e choveu tanto que a chuva arrasou com o resto. Arrependido, ele tenta consertar:

“Eu acho que a culpa foi

Desse pobre que nem sabe fazer oração”

Lembram-se da história do Rei Midas, que queria transformar tudo o que tocasse em ouro e tendo seu desejo atendido não conseguia mais comer? Pois bem, existe uma história ainda mais assustadora, “A mão do macaco”, publicada pela primeira vez em 1902 e assinada pelo autor inglês W.W. Jacobs.

Moravam numa pequena cidade um casal e o filho já crescido. Um dia um viajante deixa com a família a mão mumificada de um macaco, trazida da Índia e que teria o poder de atender três desejos. O sujeito em questão já fizera os seus e constatara que havia risco nisso, sem entrar em maiores detalhes.

Um dia, por força de aperto financeiro, o casal resolve pedir 200 libras à mão do macaco. Resultado: o filho morre acidentalmente na fábrica onde trabalhava e os pais recebem 200 libras a titulo de indenização...

É inimaginável a dor dos personagens, que ficam arrasados por algum tempo... até que a mãe tem a “brilhante” ideia de fazer um segundo pedido à “coisa”: que o filho volte para casa, mesmo estando morto.

Não vou contar o restante desse notável conto de terror. Deixo à sua imaginação. Mas fica a lição de moral: cuidado com os pedidos que você faz, principalmente se não for a Deus e aos santos, mas a entidades misteriosas e provavelmente malignas. Poderá ser muito pior se o pedido vier a ser atendido...

Rio de Janeiro, 9 de junho de 2019.