a grande canoa do pequeno iaô

https://www.youtube.com/watch?v=-jngQsa5-5Q

o gnóstico

o peregrino desperto

picado no calcanhar pelo escorpião

vagando no mundo sem ser do mundo

exaurido pelo sabor amargo das ilusões do Maya

sem repouso na terra

onde a traça e o tempo

tudo consomem.

Desmascarando-se e confrontando o Mundo Obscuro

assassinando Abel (a inocência) em si

para nunca mais dormir novamente

marcado na fronte com o sinal de Caim

pelas Três Marcas da Existência –

impermanência,

insubstancialidade

e sofrimento.

(anicca, anatta, dukkha)

tocado pela serpente,

contemplando O Vazio no Imanifesto

arrancado para sempre

das garras da dialética

da luz de Mara

saiu da treva dos sonhos

completamente desperto

um microcosmo saturado

um botão de rosa prestes a desabrochar

porque duvidar é enlouquecer

e voltar é precipitar-se.

tornar-se-á

o habitante da fronteira,

o guardião do limiar,

quando apenas o encontro com Abraxas

pode ajudá-lo a cruzar o umbral

deves matar o desejo,

mas a contradição que isso implica

abate tua razão

como impasse sem saída

no desejo de não desejar

testemunha pois o louvor dos profanos

ao Mundo Luminoso

a metade oficial de um Mundo

arbitrariamente fatiado

e oferecido em holocausto

já que a Visão do Abismo

lhe arrancou para sempre

a inocência edénica.

mata a Vontade!

aniquila-te!

e nenhum fruto será colhido.

Teu esforço para livrar-te da Vontade

é também obra da própria Vontade

na contradição máxima

de um ato absolutamente impossível

o segredo do Nirvana

é estar aqui e agora

sem mudança de lugar terrestre,

mas no despertar de qualidades

que trazemos desde sempre em nós

e o ovo que racha

para que a ave nasça

não era o universo

mas a consciência encasulada

do próprio peregrino

e resistir é tolice.

unir-te-ás ao Não-Nascido,

ao Sol-Leão-Serpente,

selando em teu coração cingido

o casamento indissolúvel

da tua noiva-alma com a Sophia Divina.

compreendendo a condição humana

enchendo-se de compaixão por todos os seres

A Rosa tocada pelo amor oniabarcante de Abraxas

desperta o Arhat em Bodhisattva

e o Samsara inteiro se transfigura em Jardim dos Deuses,

sendo o divertimento do adepto,

como dizia um mestre,

"fazer com que o deserto floresça

de beleza e perfume"