2018 PROVÉRBIOS MINEIROS XXV - J B PEREIRA - HOMENAGEM A GENTIL URSINO VALE.

05/02/18.

CAUSO MINEIRO - EMOÇÃO E VIVÊNCIA - FAMÍLIA E TRABALHO, RELIGIÃO E AMOR.

O cabocho na estrada estava de cócoras,

Deixou o arraial e o povaréu, rumo à cidade aventurar.

Rodeados de peões da lavoura, partiu cedo, invocou os santos todos com fervor,

Colocou o bentinho ao pescoço e o terço no embornal,

Deixou a mãe a chorar, debulhou o milho da véspera no paiol,

Encheu a moringa de água, ao longe despediu dos amigos do arrozal,

Galopou no pangaré do fazendeiro ao lado, à noite as estrela piscantes

Rosto queimado de bronze do sol sertanejo – a tarde arou o rosto dele,

olhos lagrimejantes, joelho caído pelas argamassas da obra...

As tintas envelheceram

o cabelo de repente.

Chovia depois na cidade no telhado – ouvia todos os respingos grossos...

Estava jururu, tomou café cedinho, tomou o resto da coalhada,

Preparou a marmita ou matula, encarcou o cotovelo na janela do ônibus

Da manhã, e a mente lembrou montoeira de coisas da vida que deixara,

A condução agora se aproximava do trabalho novo, sentiu então o bicho

miserável, por que não ficara na sua terrinha da estiva do Pau d’Angu?

O filho dele um dia teria talvez orgulho do pai!

Queria escola e igreja pertinho da casinha e mulher podia depois – se tudo

Desse certo, vir também.

Mala na carcunda, o cão embarafustaria casa adentro atrás de vacas que nem Gemia.

E vai à missa ou culto da igreja aos domingos se Deus quiser e a Virgem permitisse.

Ele malhava o lombo na obra com cimento e tijolos de sol a sol, chuva a chuva.

Contava nos dedos os dias de trabalho. Ficava quieta ao ouvir os companheiros a tagarelar sobre mulher, política, futebol e comida. Corpo sujo de tudo... só pó... Judiação! Molambo1

Lá de cima, via a cidade até o fim, tentando adivinhar como estava a casa da mãe.

Em casa, ajeitava as coisas –modo de se virar sosim. Parecia vida de solterim. Sem sono, rolava a noite inteirim. Talvez fosse a saudade; talvez o café muito. Afinal, chega o dia! Ria e chora desde amanhecim. Esgagando a emoção, o cabra adiantou na madrugada. Rua só!

E viu mendigo dormir nas marquises. - Lulália devia chegar na rodoviária!

Viu a mulher e o filho, o cachorro abanando o rabo. Era o sonho de um homem quase um menino. Foram felizes para a comunidade, beiradas do sul da cidade.

- Oi, Antônio José? Estava rindo à toa.”

- Olá, minha mué! “A mulher era prendada” como tal. Cozinheira e costureira de mão-cheia.

- Bênção, pai!

- Jesus, nosso Senhor, Te dê a bênção, meu fio!

“O Filho é o presente do céu.” “Riso de criança é a música mais linda do mundo.”

No imborná, queijo, rapadura, doces, milho, peixe com salmora, galinha caipira...

“A memória nunca envelhece...” Entendeu?, compadre!

(Baseado e parodiando Gentil Ursino Vale, Voltou o sol. Acadêmico falecido, 1962.In: O Melhor das Antologias - Um Convite à Navegação Sem Rumo, lançado em 2010.)

J B Pereira e https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3897409
Enviado por J B Pereira em 05/02/2018
Reeditado em 05/02/2018
Código do texto: T6246212
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