BEBER E ESCREVER
Beber e escrever, não necessariamente nesta ordem, me parece ser a terapia (ou desabafo) da solidão.
As palavras borbulham e encharcam dentro de uma mente embriagada pelo silêncio, silêncio este encorajado pela surdez alheia. No entanto, as vistas cambaleantes tentam unir as letras na esperança de decifrar palavras, mesmo que tais letras tentam fugir do campo visual . Não existe presságio, nem tão pouco organização literária... há apenas passado, há apenas saudade, há apenas remorsos. E tudo que esta mente embriagada de solidão quer é vomitar em palavras toda a tristeza ressentida e acumulada.
Surge uma palavra, depois uma frase, mais adiante um parágrafo, depois outro e outro. A mente começa a aliviar como se fosse tirado de dentro dela um grande tumor maligno. A embriaguez totalmente desconcertante começa a dá lugar a uma quase sobriedade de pensamentos, advento de um desabafo. Ainda não há presságios, mas já há fomentação de ideias, planos, e até uma esperança surge de que sairá um bom texto, texto baseado no milagre da escrita. Uma escrita que pode transformar uma mente quase morta de sonhos e vontades em uma mente generosamente lotada de sentimentos e desejos.
Beber e escrever: beber as angústias e as dores; escrever os sonhos e as esperanças; escrever, escrever como um presságio de que tudo vai ficar bem...