Maça

A maternidade pra mim nunca será possível. Meus sonhos sempre a impedirão. Ao anoitecer, quando caio na rede como um peixe em meus sonhos, todas ondas oníricas me levam pra inumanidade de meus rebentos. No último, pari uma bola de sangue. Olhei, toquei com certo amor e compaixão... meu filho. Toquei com um pouco mais de força sentindo a textura; com as mãos, limpei o sangue tentando adivinhar-lhe a forma além daquela descoberta pelos olhos... mas ele era todo vermelho e redondo. Cheirei, toquei um pouco mais e, eis ele: uma maça. Como diante de um espelho, vi essa mãe devorando sua cria com o sumo escorrendo-lhe entre os dentes.