CIDADE

Uma rota incerta.

E logo uma selva... E logo como que um rio. Mas adiante um carreiro que forma estradas, se fecha nos próprios ângulos a longo dum tempo em que as arvores indefinidas ou indefiníveis tinham esbeltas silhuetas como falas. Como tu nas sombras, como eu agora no uso de estas palavras.

Atrás pois, depois de cruzar os mares, estamos nós.

Nunca tivemos selvas.

Não teremos jamais rios navegaveis. E as poucas rotas de acesso parecem nos foram desde o centro trabadas.

Estamos, vivemos prestando fadigas ao destino. Foi desta que meu pai inventou o modo de não extinguir-se na fábrica ardida. Como ele eu sigo sonhando na manha que há trazer aos homens de bem a resureiçao prometida. Ou em um domingo para vencerem ao menos esta apatia, de ter que morar a despeito numa cidade sitada pela avaricie.

Cousas tão simples como a aurora carregada em ramos de seco amaneiro, os beiços que, todavia devem seguir procurando-me atentos nas tílias do parque ainda velho, agora abandonado; e que a dia de hoje perduram sem eu saber na sobra de aquele banco, onde tomei tua mao e tu me entregas-te uma nova alma..

Um ano a seguir seguramente todos juntos chegaremos a encontrar-nos na infância que foi perdida de aquelas acreditando um futuro melhor para nós, pago coa dor dos pais acabados.

Passou, passam os meses qual folhas que sao de calendario.

Meu avô adoeceu anteontem de cancro, fará cinco anos sua cova tomou suspiros de alguem que ainda aguarda um bocado de mais numa conversa que ficou, presa do sem tempo, em que moram o seres e a triste cidade.

Desde esse momento a avó permanece inerte no sofá, como um recanto mais onde se acumula a porcelana. Fita os olhos na nada e comunga hora trás hora com o silêncio cumplice e mártir que desprendem as pequenas estatuas.

Não molesta a ninguém, como tampouco molestava meu pai naquela fabrica. Hoje falência.

Não, não temos rios, grandes lagoas, cascatas e apenas uma cidade de cento e pico mil habitantes.

Afastada, perdida, acostada na ilusão dum principio de isolamento. Ilhada pelo bulício e o poder dos cumes que a resguardam cegamente no inverno de nevoeiros oprimentes. Saúda o verão no sol e este a sacode no ventre queimando-lhe para sempre as ânsias de renascer acomodada sobre o desgelo que tem às vezes um lento letargo.

Como minha mãe que tem outro amigo com quem entaboar absurdas batalhas.

Viajam juntos num vapor, eu com eles em fotos que logo abraçam com pombas e catedrais, de fundo sempre imtrigante. Tal qual sao as vidas, que escondem a dor, a olhos fechados..

Como meu irmão também se compromete a salvar pântanos, faunas e florestas da longínqua região apertada nos trópicos mares.

Olha revistas e promete para ano secudar uma acçao práctica. Sem demasiada ilusao, ao pasar do tempo, algo mais apagado.

Por isso acho meu pai no sótão reforma sua dignidade, depois de se aposentar dum único trabalho há apenas dez anos, mal remunerado.

Vive nesse universo de pregos e cravos, como cristo redentor filho dum carpinteiro canso, que o olha de esguelha para a cruz na esperança próxima dum certo mal presagio, duma paz que o faz resignado.

Temo subir onde a ele está, agochado entre os cascalhos, temo abra a decaída porta e se mostre tal qual é, numa longuiqua conversa tantas vezes demorada.

Temo delicadamente me preste a cadeira de zunir pregos já gastos, temo apanhe alguma outra a proposito a meu lado, e se acomode ao pé de mim, e tenha calma e paciência como nunca lhe lembro na infância, e ganas de saber e ganas de me ajudar com algo, e... com a mesma perda de orgulho, duro nas feições endureza mais minha alma.

De quando em quando tudo isso boto a falta, e de quando em quando não me atrevo a traspassar o primeiro degrau que se assoma a luz da escada. E me da por ir ate o rio, melhor na brêtema, para que ninguém possa observar como cismo esvaziado com apertas que não terei e palavras de reconforto que escasseavam ao jantar das horas húmidas, mastigado com arroz, da escola as pastas.

Aí que prefira Marisa, a mulher que me ensinou a burlar o pudor de ser desejado

E Marisa, segundo disse também me prefere a mim que o companheiro co que vive fascinada... e de quem sempre se lembra quando olha no regolio seu sorriso de inocente criança. Tanto ele a necessita, que so pode comigo encontrar-se.

Sendo de esta maneira as cousas não vão tão mal como a Rogério debruçado na varanda, depois de ter queimado o balçao ate a hora de feche na praça.

Ou João, Lucas, Ismael, todavia perseguindo estrelas que o destino lhes negara na comarcal 124 a hora em que agrestes os montes ao alva deixaram de preveer, que um novo dia para eles seria levantado.

Vem esse mal, da cidade, do seu interior sonánbulo.

Vem e fica entre nós.

Não há selvas, grandes lagos, nem tampouco um grande amor para as noites abrigar-se. Faz frio, no verao calor, e no interior um mal estar de tempo impregando a alma.