Uma estréia adiada

Por tempos que não sei contar fiquei reclusa ao escuro da solidão, ao vazio de compartimentos tão íntimos, a lugares quase impenetráveis, porta antiga e pesada, fechaduras de chaves perdidas caminhos que não se refazem, sem sequer uma marca indicativa...

Como uma cega ia guiada pela intuição, às vezes um sinal de visão me vinha, era como se houvesse uma grossa venda que eu tentava tirar e não encontrava forças.

E tudo era tão simples bastava um gesto e os olhos se abririam como que magicamente, e todo um lugar uma paisagem seriam observados com uma visão bem diferente, uma visão única e inquietante, de um cenário dantes só visto em sonhos... Luzes muito claras se misturam e geram uma gama de brilhos, reflexos, coloridos somente capazes nessa perfeita iluminação.

A música é calma, terna, serena, a completa harmonia de tons, sons, notas, instrumentos e vozes, o som que anuncia a chegada ao êxtase. No palco cenas nunca representadas perfeita mistura do real e o imaginário nos trazendo as mais profundas lições de vivência uma representação em que os atores ao mesmo tempo em que comovem alegram, e nos fazem sair daquele lugar com a impressão de que nem era real nem fantasia, era tudo um misto de sentimentos reações, a própria vida...

Como saber que o sonho virou verdade? Que o adormecido foi acordado, que a viagem aconteceu e na busca dos meus sonhos aportei em um porto tão seguro que agora tento soltar as amarras, mas como que involuntariamente o barco não se distancia do cais?

Quando tento calar esse incompreensível misto de liberdade de conseguir respirar fundo por um sentimento e ao mesmo tempo calar essa respiração, sinto um amargo que suplanta o doce dessa fruta misteriosa não provada...

São confusos os caminhos, o sentimento por si só faz bem torna a vida melhor ultrapassa as limitações impostas pelo corpo, pelo físico e se transborda, intenso derramamento se suplanta, transcende fica maior e insuportável, impossível de mensurar e fazer comportar em um simples corpo, de caber num ser, entretanto ao mesmo tempo perde um tanto de sua luz, alquimia, o doce o gosto na boca hoje tem um travo, a respiração fica menor menos profunda, derrepente a cena fica cinza, horas escuras, por momentos não há estrelas, apenas um palco vazio, sem cenário sem platéia, aplausos, vazio.

Haverá outras estréias? Virão novos textos? Roteiros? Iluminadores? Sonoplastas? Haverá aqueles que representam? Encenam, fazem rir e chorar? Existirá alguém para assistir? Terá palco? Luzes? Novos sonhos... Acontecerá?

Sobre uma estréia adiada...