O Veredicto

Quisera eu acusar-te por tua cruel indiferença para punir teu crime com o pior dos castigos, porém concedeu-me Deus a virtude da justiça e sei que pecado algum cometeste intencionalmente contra mim.

Deixa-me, contudo, fazer-te réu por um dia a fim de que eu possa observar-te da minha cadeira de juiz. Assim, quando nossos olhares se encontrarem frente a frente, verá o júri quanta diferença existe entre estes dois feixes de luz a partirem de nossas vistas.

Olho-te com o coração em chamas; palpita-me o peito de enamorada fúria. Pede-me o orgulho que dissimule tais sintomas, mas há muito que amo o belo dos teus traços e já me acostumei com as imperfeições de tua alma confusa.

Ao contrário de tudo, teu olhar atravessa-me como barreira invisível, pois és incapaz de me ver a qualquer distância. E de todas as causas de tua cegueira suporto melhor a crença de que, tão fechado estás dentro de ti mesmo que fizeste do espelho tua paixão única e antiga.

Não há chave que transponha a cadeia na qual te encerras; foste tu quem escolheste tal abrigo. Se não desejas que eu me aprisione contigo, inexistem meios que possam obrigar-te.

Para o fim de nossa sessão solene deixa-me apenas dar teu veredicto: Estás em posse de teu livre-arbítrio e farás com teu coração o que bem desejares. Espero apenas que sejas frívolo o suficiente para não deixar que tuas vontades impossíveis dominem teu raciocínio.

E a nós, pessoas das normas jurídicas que participamos deste julgamento, resta-nos apenas abaixarmos nossas cabeças e fecharmos nossos livros, pois é único o verdadeiro termo: Não existem leis que possam reger os sentimentos.

Larissa Lopes
Enviado por Larissa Lopes em 15/05/2008
Reeditado em 23/05/2008
Código do texto: T991405