A personagem encarnada
A personagem que me veste...
Incorporo há tempos um anseio de não saber o que,
Uma criatura que pede fuga e ao mesmo tempo se aprisiona em mim,
Há um texto,
No qual se cumpre a rigor,
Há um amor exacerbado,
Inconsciente e sem compaixão,
Um infinito texto de palavras e contido de conflituosos gestos,
Que averiguam a alma, incorrem em delitos,
Amam acima do bem e do mal,
Complacentes e desejosos de amor cada vez mais.
Visto-me de cores, adornos,
Fico assim um tanto vermelha, me colorem as vestes que me fazem uma personagem de Almodóvar,
Faço-me alguém em drama,
Meus amores insolúveis são de cunho trágico,
Descubro-me inteira vermelha, apaixonada, intensamente apaixonada,
Como se esse fosse o último amor,
Como se o amor sentido a cada segundo se esvaísse... Em gotas de sangue...
Meus amores são ofertados, derramados, caem em cascatas sonoras e não tem como evitar um alagamento... Maremotos em profusão...
Amo integralmente, nada de repartido,
Nada de doses, nada de parcialidades,
Amo com imensidão, gigantismo, irrefutável amor,
Incondicional amor...
Amor cego,
Que não se dilui,
Denso... Fervilhante...
Ah, essa Lydia, Raimunda, Manuela e tantas mais, estão implícitas, patenteadas em meu universo, habitantes da mulher indecifrável e compreensível que sou...