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ENTRE CORRENTES UMA ELEGIA PARA NIKOLAO
"executo meus versos na flauta das minhas vértebras..."
(Maikóviski)
(Reverberas de Sofia (zocha))
Meio longe ou meio perto só uma mancha imensa na retina de borra da tela esmaecida. Não sei se passo perto ou passo longe, se fico em cima ou fico embaixo, se o banco é alto, então minha visão é abaixo da linha do horizonte, mas a grande bacia da água é muito grande , um imensa cratera e gira o meu olhar como em decanto, não consigo segurá-lo e a figura daquele homem como uma grande estátua me horroriza. Com dificuldade olho a grande mesa, há leite, pão feito em casa, canecas esmaltadas, mas, não consigo vê-la...não a vejo, os pés de madeira bruta sobem aos céus como grandes colunas. Agarro-me com dificuldadade neles e consigo subir com dificuldade sobre o banco. Aquele homem ao longe tem uma barba muito longa. Como uma velha árvore tombada permanece naquela posição imóvel. Os circunstantes arrastam seus enormes pés...ouço-lhes as correntes. Ah! como é terrível ouvir os sons de correntes, correntes que degolam,assim o matadouro próximo daqui tá fazendo agora , correntes que se usam em pescoços com santinhos, correntes que suportam jóias, correntes umbilicais, correntes que em cadarços amarram sapatos que afundam pregos em sua sola...Ah! o solado dos sapatos e o velho sapateiro Lucidório que mora no bairro Jardim Paulista, a alguns quilometros daqui do escritório...com seus sapatos consertados, congelados naquelas prateleiras com cheiro de cola, tinta e fungo de pés...os pés que são suportes e arrastam correntes...mas a barba enorme daquele homem sentado continua fustigando meu olhar como uma imensa mancha que o tempo, nem as águas das chuvas não conseguem diluir...sua barba é uma enorme corrente serpenteando as dobras do instante. E eu não consigo segurar o instante, a palavra foge, se esfuma, apenas mal a ouço e já a vejo despregar-se no tempo, mas a grande mancha se reconfigura na tela e revejo com claridade atrás da palavra o velho alemão, Nikolao, meu avô, com suas longas barbas, os pés dentro da bacia da água cheia de sangue e uma ferida profundamente escavada sangrando-lhe intermitemente de uma das colunas de suas pernas... No vazio do espaço a formatação das linhas das águas que se esvaem, a barulheira na farmácia aqui ao lado, o dia do agora de cinza recaído sobre o gramado da manhã, o chuvisco dos olhos que me mordem, os dentes lancinantes das horas escorrendo, os restos de incenso queimando na forja da salamandra, pelos caminhos mortos o olhar dessa cidade minguada, fria, gelada, dessa praça desnuda, desses caquieiros vincando a saliva dos estrangeiros, ah...as correntes se arrastando e se despetalando ...tudo sempre se esfuma, dança, se rasga, se arrasta..
www.lilianreinhardt.prosaeverso.net
www.cordasensivel.blogspot.com
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"executo meus versos na flauta das minhas vértebras..."
(Maikóviski)
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Meio longe ou meio perto só uma mancha imensa na retina de borra da tela esmaecida. Não sei se passo perto ou passo longe, se fico em cima ou fico embaixo, se o banco é alto, então minha visão é abaixo da linha do horizonte, mas a grande bacia da água é muito grande , um imensa cratera e gira o meu olhar como em decanto, não consigo segurá-lo e a figura daquele homem como uma grande estátua me horroriza. Com dificuldade olho a grande mesa, há leite, pão feito em casa, canecas esmaltadas, mas, não consigo vê-la...não a vejo, os pés de madeira bruta sobem aos céus como grandes colunas. Agarro-me com dificuldadade neles e consigo subir com dificuldade sobre o banco. Aquele homem ao longe tem uma barba muito longa. Como uma velha árvore tombada permanece naquela posição imóvel. Os circunstantes arrastam seus enormes pés...ouço-lhes as correntes. Ah! como é terrível ouvir os sons de correntes, correntes que degolam,assim o matadouro próximo daqui tá fazendo agora , correntes que se usam em pescoços com santinhos, correntes que suportam jóias, correntes umbilicais, correntes que em cadarços amarram sapatos que afundam pregos em sua sola...Ah! o solado dos sapatos e o velho sapateiro Lucidório que mora no bairro Jardim Paulista, a alguns quilometros daqui do escritório...com seus sapatos consertados, congelados naquelas prateleiras com cheiro de cola, tinta e fungo de pés...os pés que são suportes e arrastam correntes...mas a barba enorme daquele homem sentado continua fustigando meu olhar como uma imensa mancha que o tempo, nem as águas das chuvas não conseguem diluir...sua barba é uma enorme corrente serpenteando as dobras do instante. E eu não consigo segurar o instante, a palavra foge, se esfuma, apenas mal a ouço e já a vejo despregar-se no tempo, mas a grande mancha se reconfigura na tela e revejo com claridade atrás da palavra o velho alemão, Nikolao, meu avô, com suas longas barbas, os pés dentro da bacia da água cheia de sangue e uma ferida profundamente escavada sangrando-lhe intermitemente de uma das colunas de suas pernas... No vazio do espaço a formatação das linhas das águas que se esvaem, a barulheira na farmácia aqui ao lado, o dia do agora de cinza recaído sobre o gramado da manhã, o chuvisco dos olhos que me mordem, os dentes lancinantes das horas escorrendo, os restos de incenso queimando na forja da salamandra, pelos caminhos mortos o olhar dessa cidade minguada, fria, gelada, dessa praça desnuda, desses caquieiros vincando a saliva dos estrangeiros, ah...as correntes se arrastando e se despetalando ...tudo sempre se esfuma, dança, se rasga, se arrasta..
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