[Desencontro de Solidões]
Parece até fácil...
Uma Solidão que andava perdida,
sentido-se assim, a última das Solidões,
encontra enfim, outra Solidão;
começa assim a construção de um amor...
Começa mesmo? Será? Será?
O mais certo é que não!
E digo a razão:
é que uma Solidão é apenas solidão e sonho,
é assim como um jardim que, outrora viçoso,
vive agora à espera de mãos que o cultivem;
é pura, porém calma, ansiedade de amar...
Mas a outra Solidão — ah, que ironia! —
a mais carente, mais melancólica das duas,
tem ainda viva a chaga de uma lembrança,
sofre a dor de um abandono irreparável...
Toca o seu leito frio, e abraçada ao travesseiro
que ainda guarda o cheiro da última vez,
chora, apenas chora sozinha na noite!
A melancolia do amor...
O que é essa melancolia?
Um desencontro de Solidões?
[... e como sempre, eu não disse nada, apenas tentei]
[Penas do Desterro, 12 de maio de 2008]