O DESTINATÁRIO DIFUSO
Um alvo em movimento, uma miragem, uma criatura etérea, fugidia, tudo isso talvez pudesse caracterizar aquela que se queimava com seu próprio fogo, que se deliciava em sonhar encontros delirantes, mas permanecia em seu reduto, atenta a tudo que se movia ao redor, sem entretanto tocar qualquer realidade mais concreta. Ela temia que estando frente à frente com o objeto da sua paixão, qualquer palavra ou gesto dele pudesse quebrar o encanto e revelar que na verdade, tal homem não era o seu amado das letrinhas, pois era muito real e poderia roubar para sempre a imagem que ela construíra com aquele rosto, aquela boca , os olhos, quem era afinal o dono daqueles olhos? E vendo de perto assim de poder pegar, de poder cheirar e sentir o gosto, onde ficaria aquele do sonho, aquele que ela podia ter da forma que mais lhe agradasse, e que tudo que lhe dissesse não passaria de letras, como ele mesmo definiu?
Ela era um destinatário difuso, alguém que nunca se revelava por inteiro, que nunca ele poderia enquadrar em algum conceito ou descrição definitiva.
Mas ele amava justamente aquele eterno vai e vem, aquele eterno não vir a ser, porque também temia dar forma palpável a seus sonhos. Pois, sendo feito de uma matéria inquieta que o moldara pra sempre, ao ver-se entre as quatro paredes de um relacionamento que aos poucos mostrasse seu lado prosaico com a ameaça de rotina e " mundos velhos" não hesitaria em sair de cena, nem que pra isso tivesse que inventar um forte motivo para convencer a si próprio de impossibilidades providenciais. Não é fácil identificar o que realmente nos move, as vontades são enganadoras, a teoria do inconsciente já o demonstrou. Assim, poderia seguir cantando seus infortúnios em busca da amada pelas noites afora, apegando-se a um ser irreal, construído sobre uma pessoa de carne e ossos, um eterno vir a ser, já que ela nunca se quedava claramente e de forma palpável.
E até que ponto ele realmente a buscara e quisera ter mais próxima? O alvo difuso não teria tomado tal forma como única maneira de preservar aquele a quem tanto queria?
Este destinatário sendo do modo que o descrevemos, dificilmente se transtornará com alguma inesperada reação de desconforto vinda da parte do seu amado das letrinhas. Porque na verdade nunca se sentiu verdadeiramente o alvo de um amor. Nunca teve esperanças, pois para tanto era preciso que pelo menos uma vez, uma só, ele a tivesse visto verdadeiramente. E dito isso com as letras que tanto usara em intermináveis rodeios.
Ela nunca conseguiu penetrar mais fundo na camada que ora se mostrava atraente e irresistível, ora recrudescia em palavras secas, ou em divagações, em fugas ou ausências. Muita intensidade pode ferir e causar queimaduras. E ela desde o início dissera: sou como uma mariposa. E estou queimando as asas em tua luz...
Um alvo em movimento, uma miragem, uma criatura etérea, fugidia, tudo isso talvez pudesse caracterizar aquela que se queimava com seu próprio fogo, que se deliciava em sonhar encontros delirantes, mas permanecia em seu reduto, atenta a tudo que se movia ao redor, sem entretanto tocar qualquer realidade mais concreta. Ela temia que estando frente à frente com o objeto da sua paixão, qualquer palavra ou gesto dele pudesse quebrar o encanto e revelar que na verdade, tal homem não era o seu amado das letrinhas, pois era muito real e poderia roubar para sempre a imagem que ela construíra com aquele rosto, aquela boca , os olhos, quem era afinal o dono daqueles olhos? E vendo de perto assim de poder pegar, de poder cheirar e sentir o gosto, onde ficaria aquele do sonho, aquele que ela podia ter da forma que mais lhe agradasse, e que tudo que lhe dissesse não passaria de letras, como ele mesmo definiu?
Ela era um destinatário difuso, alguém que nunca se revelava por inteiro, que nunca ele poderia enquadrar em algum conceito ou descrição definitiva.
Mas ele amava justamente aquele eterno vai e vem, aquele eterno não vir a ser, porque também temia dar forma palpável a seus sonhos. Pois, sendo feito de uma matéria inquieta que o moldara pra sempre, ao ver-se entre as quatro paredes de um relacionamento que aos poucos mostrasse seu lado prosaico com a ameaça de rotina e " mundos velhos" não hesitaria em sair de cena, nem que pra isso tivesse que inventar um forte motivo para convencer a si próprio de impossibilidades providenciais. Não é fácil identificar o que realmente nos move, as vontades são enganadoras, a teoria do inconsciente já o demonstrou. Assim, poderia seguir cantando seus infortúnios em busca da amada pelas noites afora, apegando-se a um ser irreal, construído sobre uma pessoa de carne e ossos, um eterno vir a ser, já que ela nunca se quedava claramente e de forma palpável.
E até que ponto ele realmente a buscara e quisera ter mais próxima? O alvo difuso não teria tomado tal forma como única maneira de preservar aquele a quem tanto queria?
Este destinatário sendo do modo que o descrevemos, dificilmente se transtornará com alguma inesperada reação de desconforto vinda da parte do seu amado das letrinhas. Porque na verdade nunca se sentiu verdadeiramente o alvo de um amor. Nunca teve esperanças, pois para tanto era preciso que pelo menos uma vez, uma só, ele a tivesse visto verdadeiramente. E dito isso com as letras que tanto usara em intermináveis rodeios.
Ela nunca conseguiu penetrar mais fundo na camada que ora se mostrava atraente e irresistível, ora recrudescia em palavras secas, ou em divagações, em fugas ou ausências. Muita intensidade pode ferir e causar queimaduras. E ela desde o início dissera: sou como uma mariposa. E estou queimando as asas em tua luz...