[A Passagem do Amor]

Morreu — vai passar agora;

mas não é preciso que as pessoas

descubram as suas cabeças,

seria uma hipocrisia ante uma morte

tão ardentemente desejada, esperada.

Morreu — é um morto grande, um morto vasto,

pois leva consigo muitas mortes;

algumas, praticadas contra os outros,

matando-lhes os sonhos, as possibilidades;

outras, foram contra si mesmo, imolando-se

no altar das suas tantas pusilanimidades;

estas mortes o tornam pesado, muito pesado!

Outras mortes lhe são atribuídas, uma injustiça,

pois estas foram meras perpetrações do destino,

coisas da fortuidade, ou de um certo modo de olhar;

e essas, certamente, tornam o morto mais leve!

Ninguém conseguiria narrar todas as suas peripécias,

já que a maior parte delas não teve testemunhas;

se as suspeitas são muitas, as palavras são inúteis:

todo amor morto é um grande morto —

celebremos a sua passagem!

[Penas do Desterro, 08 de maio de 2008]