Reflexo

Sou eu esse? Ou meu reflexo no espelho? Não difere. A única divergência é que meu reflexo, este que me vê e a si mesmo de frente, faz do meu certo o contrário. Que mal tem, se mesmo Deus escreve certo por linhas tortas?

Já me vem o pensamento: quem sou eu, então, que não um pueril reflexo do meu próprio reflexo no espelho? Quiçá eu, em a mais pura inocência e imaculada brancura de min’alma não torne, ingenuamente, digo em empáfia, o certo do espelho em contrário também, como bem faz esse para meu senso.

Alimento-me, então, da sabedoria ferrenha da qual se jactou um dia algum pedante pensador, mas que presentemente já se fez errônea e fez-me iludido ao ter-te como verdadeira. Sabedoria essa que dizia que um espelho plano nos reflete com o mesmo tamanho o qual nos mostramos a ele. Toleima! Sinto-me truncado. Sinto que mesmo em um espelho de minha eminência falta ainda algo a minha imagem. Qual’cousa de crucial ou irrefutável.

Privado desta cousa qualquer, nada sou. Outrossim, sou cousa, mas algo como barro bruto que não passou, ainda, pelas hábeis mãos do oleiro; como palavras cujo autor ainda não captou em sua mente, ou materializou em suas linhas; como sentimento o qual o poeta nunca sentiu. Sou cousa assim, cousa inútil. Falta-me a alma.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 07/05/2008
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