REENCONTRO

Há quanto tempo não nos encontramos.

É... A monotonia da felicidade nos afastou.

O tempo correu corrido, alegre, transtornado, mas correu.

Encontrei finalmente o Deus que procurava,

E neste Deus, nesta vida fui ficando.

Você sabe tão bem disto quanto eu.

Tenho dormido bem, quanto tempo?

Muito, muito mesmo.

Esqueci-me do meu eu interior,

Aquele. Você sabe... Pois é você.

Mas voltei. Aqui estou novamente.

Voltei para você, você que sou eu.

Você minha profundeza, meu refúgio.

O bom sono aos poucos foi-se indo...

Pensamentos retornam, sonhos... E que sonhos!

A madrugada novamente é vivida,

A insônia, pensamentos insistentes...

O nosso cigarrinho, a caneta e o papel,

A luz baixa do abajur, a confusão tão sua conhecida.

Cá estou outra vez.

Morrendo nas músicas, nos remédios,

Nascendo para o nosso mundo, que dizer?

Digo que cada vez mais vem à tristeza,

Estranha tristeza, alegre tristeza.

Sonhos, esperanças, medo, covardia e arrependimentos.

É engraçado, grotesco mesmo, como gosto disto tudo...

Como necessito deste sofrimento louco.

Só você me entende, só você me faz assim.

Retornar ao inferno... Amigo infernal.

Tenho sede, tenho amor, tenho saudades.

Sou amada, desejada, cortejada.

Bebo e já não me embriago

Danço e não me alegro. Fantasio a vida e nela sou mascarada.

Tenho histórias fantásticas, inebriantes e nada posso contar... Sinto-me presa, amarrada, e quando acordo vejo que é real.

É... Estamos novamente juntas,

Nas noites, no cigarro, nos sonhos...

E no sofrimento em que me completo, em que me entrego,

No sofrimento em que sou feliz...

Vou correndo atrás do mundo

Perseguindo minha juventude, meu passado

Lembrando, relembrando

Querendo sem poder

Sofrendo sem sofrer

Chorando sonhos, chorando uma felicidade perdida

Sentindo...estranho... Sentindo que não sou mais eu agora.

Que sou você, por dentro e por fora.

Sou você novamente sabe? Mas somente àquelas horas do dia em que me é possível.

E neste tempo eu amo, amo a mim, amo a você, e amo o que deixei escapar.

(1983)