[O Abismo que Eu Não Vi]
Às vezes, por uma razão
que a mente não admite,
a minha saliva tem gosto de morte.
Tento esconder de mim mesmo
o corte, a fuga empreendida,
tento não saber que escolhi morrer.
Procuro pensar com firmeza
que a vida não vale a pena,
que é a constante traição de si,
que é a perda do que mais queria,
que é o sonho desfeito em nada,
é a saliva da morte na minha boca...
Nada disto dá certo, nada funciona,
são apenas engodos do sofrimento;
— sobreviverei a mais esta passagem?
Se a mente emaranha-se em desrazões,
o meu coração nada sabe, e pergunta
como foi que não vi esse abismo...
[Penas do Desterro, 05 de maio de 2008]