[Devaneios da Ausência]
A timidez talvez explique
este meu impulso de antecipar-me,
de sempre querer saber da foz, mas é claro,
sem ter de sofrer o percurso inteiro!
Assim, indo às consequências não acontecidas,
eu declaro: sou simples ausência, eu falto;
mas é só: eu apenas falto... Como naquele dia
em que faltei à escola primária e ninguém
deu pela minha ausência...
Mas não o bastante para que
o espaço que antes eu ocupara,
sirva de alívio para algumas pessoas;
aquelas, cujos sentidos estão nalgum ponto
onde os meus olhos já não pousam mais.
Eis-me: apenas falto!
Um buraco na paisagem,
eu sou reles presença apagada
pelo esquecimento. Nada mais!
Ler-me é um jeito de me esquecer,
de não querer me ver — nunca mais!
Será que a esta ausência assim, induzida,
é também uma forma de estar presente?!
Ou será uma vingança... uma vingancinha à-toa?
Não; nada disto! É só uma declaração humanidade,
de admitir-me como um ser de Estação,
ser para sumir entre objetos da paisagem!
Agora sei: se me caracterizo como uma falta,
tanto faz que eu tenha estado no mundo... ou não!
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[Penas do Desterro, 01 de setembro de 1998]