Um passado suplício
Ora de quem diga que Madalena é a mulher torta da cidade. A pressão da família, o casamento prometido e sem amor, à acepção de sua vida está escrita em meras palavras quando as soltam em seus desabafos.
-Ah! De quem pense, sou um pedaço do mundo, meu sonho, tão bem sacrático e absurdo, toco piano, danço valsas, tentei fazer da minha juventude a minha própria inspiração para assim vencer os preconceitos da mulher, ou melhor lançados sobre mim em uma época tão restrita, anos que me sentindo um objeto, tentei produzir, buscando o melhor de mim.
-Eu tinha 15 anos, a televisão ainda não era encarada em forma crítica como “Bem e mal, certo e errado, divertido e assustador, verdadeiro e falso, real e irreal”, os vizinhos de onde eu residia com os meus pais, faziam cochichos de que eu era vivida para a minha idade.
Madalena mantia-se em um conflito, brincava de boneca, usava roupas ciganas porém sentia-se pronta para namorar, afinal já havia estudado em muitos romances sobre o sentido do amor em seus aspectos, já que amava um menino de sua sala, um pouco mais velho e escuro, e no fundo sentia-se infeliz por tentar acercar , aquele a quem já havia sonhado, mas a sua família a tinha prendido em casa, com agressões a ameaçando-a mandar para um convento, porque não colocou filha no mundo para casar com “preto e pobre”.
-Não me importo com acervos deixados pela minha família algum dia, quero construir o meu mundo trabalhando honestamente, modificando esta idéia de que mulher é Amélia e só serve para trabalhar na cozinha e lavando roupa.
-O Chiquinho é o meu melhor amigo, vejo características suas semelhantes a minha, não gosto deste modo, que a minha família refere-se a ele. E o segredo da felicidade, é construir um aspecto de vida melhor, reconstituído pela paz, esta a qual nunca conheci em minha família.
A discriminação, o desrespeito e inúmeras humilhações passaram a acompanhar a vida de madalena, nem mesmo o ingresso a faculdade de jornalismo em sua época, a manteve em destaque pelo seu reconhecimento feminino . Sendo levada para fora da cidade, durante um tempo esteve distante de seu Chiquinho, esta menina, se tornara uma mulher estudiosa, pensante, avançada pela sua época, porém determinada para contribuir com o progresso da mulher.
-Eu corro por todos os lados, mas não deixo o meu objetivo escapar, sou estudante, não sou virgem, faço jornalismo, meus objetivos são pensantes, mudei conceitos e quebrei paradigmas.
Sendo forçada a casar, com um homem mais velho e amigo de seu pai, manteve-se infeliz durante anos de sua vida, colocou filhos no mundo e aparentemente mantia-se satisfeita por alguns instantes. Não suportou a idéia de estar presa em casa e não trabalhar e estudar, afinal era jovem com 25 anos, já tinha dois filhos, queria ser independente e valorizar o seu aspecto cultural e social como mulher, provar que é capaz de produzir profissionalmente.
-Eu acordei quando um dia passando com um dos meus filhos, encontrei numa casa parecendo um castelo de mulheres prostitutas o meu marido, investiguei e a realidade para acordar, foi a mais absurda: a traição. Usei este argumento, como um grande incentivo para me libertar do homem, que me enganava, o tradicionalismo, a hierarquia e os conceitos para ser uma boa mulher, comecei a viver coisas novas.
-Encarei todas as dificuldades com a separação, passei a trabalhar a cuidar dos meus filhos e sustenta-los como se fossem só meus.
Foram muitas sincronias existenciais na vida de Madalena pois nunca aceitou viver de aparências para a sociedade e sua família. E a mudança, de forma física e moral a metamorfose mudou seus pensamentos e as suas ações, a transformando-a numa mulher moderna.
Ah! De quem diga, Madalena não perdeu a sua força como mulher guerreira, chegou as ruas lutando por seus dois filhos com todo o pulso de mulher posicionada. A Ditadura Militar não abateu a sua coragem, investindo em livros e nos seus projetos, chegando a ser presa e não se abateu com este acontecido traumático, que a oprimiu, apesar de ainda tristemente ser uma mulher, possui sentimentos de fragilidade, angustia e sensibilidade, porém o diferencial de Madalena está na sua ousadia e na forma a qual reage diante dos acontecimentos de sua vida.
Foram muitas lutas e lágrimas, Madalena conquistou uma posição de liderança, em seu emprego na assembléia do jornalismo.Já passaram anos hoje, ela usa blusas de alça, não vulgarmente, porém procura sentir-se bem com as decisões tomadas no seu trabalho e com os seus filhos.
Submissão é um termo que deixa a mulher presa, liberdade é o que todas sonham, expressão é o sentimento nascente da alma em forma de arte; a mulher é um ser artístico capaz de gerar outro ser no seu ventre, alimenta-lo e preenche-lo do verdadeiro amor porque não transmitir para o mundo?Que a mulher é a responsável juntamente ao homem pela multiplicação das pessoas e a sua formação?
Quantas Madalena ainda existem necessitando de ajuda?
Milhares morrem esperando que homens conscientizem-se,
- As minhas atitudes hoje, me dão um aspecto de liberdade, sinto-me dona de mim mesma, confiante e consigo me encarar no espelho, sou uma mulher renovada e estava escondida.Os livros hoje fazem parte da minha vida, sou alguém pensante dona das próprias decisões, configuro o meu espaço como uma máquina e venço todas as humilhações que se ousam até a mim.
-Briguei na empresa por um aumento de salário, não entendo porque Bernardo tem a mesma função e sendo remunerado três vezes mais, cheguei na mesa do chefe e afirmei que o meu potencial como profissional ultrapassa até os meus próprios limites, e a empresa mantia-se no Record das melhores, o meu setor já havia cumprido com todas as metas, já a seis meses superávamos todas as expectativas.
A mulher nota-se eficiente, assim é Madalena, não perdeu a sua força como mulher pensante e corajosa, hoje a mulher moderna ela é um modelo de exemplo de força, luta e desempenho, mesmo com esses objetivos ela continua sensível e meiga, acreditando mesmo escondido em um amor, na verdade ela é revolucionária de sua própria história.