[Mundo, Mundo Meu!]

Sempre haverá um espaço bastante grande para que o mundo se transforme, e cresça em volta de mim, eu sou um ponto de acumulação de eventos, e os eventos são o mundo. Estranhamente, eu sou tocado pela eternidade que vige em cada instante, portanto, não vejo a minha morte como um evento cabível, factível; os outros morrem, eu sei, eu sinto a morte deles, mas minha morte não me interessa, já que não poderei vê-la, e nem compadecer-me de mim, pela banalidade que é o ato de morrer.

Enquanto eu duro, os outros morrem, eu não, eu vivo - essa é a minha infinitude; vivo enquanto duro, embora isto não me baste!

E os outros são maus, eu sou bom; esta é a minha ética. Os outros erram, eu não, eu apenas me engano, e isto, raramente. Eu penso que sempre estarei no mundo, mas o mundo nunca estará em mim, ou seja, o mundo é meu, é construção minha, mas, de tão mesquinho, ínfimo que sou, o mundo não cabe em mim, assim, o que mais faço nesta vida é dividir o meu mundo com os outros. É claro que esta divisão é justa: a melhor parte é a minha! Se o mundo estivesse em mim, as pessoas e todas as coisas desapareceriam num sorvedouro, e você, sim, você certamente se afogaria no meu veneno!

Tenho convicção, sou capaz de andar na linha do trem negando a existência do mundo dos outros, e nem me importaria de morrer esmagado pelas rodas do trem dos outros. Afinal, como os outros teriam um trem, se o mundo deles não existe? Eu mantenho as minhas certezas - por que eu as trocaria pelas certezas de outrem?

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[Penas do Desterro, 28 de abril de 2008]