Reflexão lírica de um poeta cansado
Edson Gonçalves Ferreira
Quando estamos cansados, depois de um dia de trabalho, queremos ouvir a canção enluarada da tua voz. Assim, o corpo do ser amado antecipa a visão do céu tanto nos mistérios dolorosos e gozozos. As bocas, macieiras em flor, têm fragrâncias indeléveis e um gosto salomônico. Podem dizer muitas coisas sobre o corpo. Pecaminoso ele não é, porque é com ele que podemos expressar qualquer forma de amor. Só ele permite o aconchego do abraço e o enlace amoroso.
A sensualidade é a porta do paraíso. Com o Amor, queremos glorificar e eternizar a nossa passagem por este mundo. Assim as mãos do ser amado suscitam milagres na nossa vida. É preciso - insisto - que façamos da vida um hino ardoroso para dizer da glória de existir, amando de forma plural. Quanta ventura existe no abraço do pais aos filhos, dos amigos, dos parentes e, também, dos apaixonados. Quando chove, os campos não voltam a florir, porque as sementes se arrebentam e explodem na primavera?
Só dessa maneira -- eu creio -- nós podemos existir, sendo capazes de ser como as sementes boas. Depois do amor filial, do amor fraternal, do amor maternal ou paternal, chega a vez do novo amor. É quando nós viramos sementes inchadas, prontas para explodir e, no momento em que isso acontece, a humanidade brilha, como se fosse um imenso jardim humano. Há tanta magia, tanta música que os enamorados parecem um campo de girassóis que, sempre, estão voltados para a Luz, a doce e meiga luz Daquele que é o Senhor do Amor Supremo.
Divinópolis, 25.04.08