INCRÍVEL E INCRÉDULOS

 

1989

 

 

 

Neste ermo aonde nasci

Hoje um exílio imposto

Quero dizer, auto-imposto

Em utópica e canhestra

Solitária legião estrangeira

Uma decisão de grande besta

Mas aqui o ermo é fértil

Senão vejamos:

Os bêbados muito freqüentes

Agora são presbíteros liturgistas

Salvos pela teimosa persuasão

Dos fanáticos evangelistas

Os católicos romanos

Na verdade, não são bem “católicos”

São devotos e vorazes materialistas

Os ateus, esses sim, podem crer!

São autênticos e devotos panteístas

Ah, e o Padre?

Um pobre coitado que só vê o mal

Mas continua bem recolhendo

O excremento do capital

O enterro aqui é uma festa

Um desfile segundo a importância

Do falecido e nobre defunto

É muito concorrido e exótico

De música sacra e rezas, um saco

São mesuras Açorianas, um tradição

Uma procissão mórbida

Tocada a quatro mãos

De preto e listrado caixão

Em funéreo pacote

Com litúrgicas canções

Para gáudio do defunto

Escapando da inflação

Escondendo-se quietinho

Num morro pobre e ignoto

No pélago derradeiro

Aos políticos eloqüentes  e safados

Negando-lhes o voto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 23/04/2008
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