INCRÍVEL E INCRÉDULOS
1989
Neste ermo aonde nasci
Hoje um exílio imposto
Quero dizer, auto-imposto
Em utópica e canhestra
Solitária legião estrangeira
Uma decisão de grande besta
Mas aqui o ermo é fértil
Senão vejamos:
Os bêbados muito freqüentes
Agora são presbíteros liturgistas
Salvos pela teimosa persuasão
Dos fanáticos evangelistas
Os católicos romanos
Na verdade, não são bem “católicos”
São devotos e vorazes materialistas
Os ateus, esses sim, podem crer!
São autênticos e devotos panteístas
Ah, e o Padre?
Um pobre coitado que só vê o mal
Mas continua bem recolhendo
O excremento do capital
O enterro aqui é uma festa
Um desfile segundo a importância
Do falecido e nobre defunto
É muito concorrido e exótico
De música sacra e rezas, um saco
São mesuras Açorianas, um tradição
Uma procissão mórbida
Tocada a quatro mãos
De preto e listrado caixão
Em funéreo pacote
Com litúrgicas canções
Para gáudio do defunto
Escapando da inflação
Escondendo-se quietinho
Num morro pobre e ignoto
No pélago derradeiro
Aos políticos eloqüentes e safados
Negando-lhes o voto.