[A nossa realidade]

Fria constatação:

só a vejo na minha tela plana,

em milhões de cores nítidas!

Ainda não inventaram o 3D

capaz de me deixar estender a mão,

e tocar o teu rosto de mutantes fotografias,

nenhuma delas dizendo quem és tu, de fato!

O teu cheiro — ah, toda a diferença! —

também não vem em ondas eletromagnéticas...

Pena de mim, pena de ti!

Assim, fica tudo mais fácil:

a fuga solerte da presença,

a possibilidade do dúbio não,

a variabilidade que te alucina,

e a firmada distância que afasta

o sonho da materialização para o longe

dos olhos perdidos das mentes sonhadoras!

Não foi inventado, ainda bem,

o substituto do Acaso numa calçada,

numa esquina, num farol de trânsito,

e, por que não, até na velha sala de chat!

Tudo a um, apenas um, passo da decisão,

e então, o encontro num esperado depois,

o coração na boca, as mãos frias,

e os olhos doidos, doidos de desejo!

[Estou quase, quase afirmando, nesciamente,

que mais prefiro os tempos do correio a cavalo!]

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[Penas do Desterro, 23 de abril de 2008]