"Você não me ensinou a te esquecer"

Das formas que me fiz em ti, duas delas hei de narrar: a que boquiaberta me deixou e aquela em que, apaixonada, entreguei-me.

A primeira, por análise e atração, foi marca da minha insanidade. Num vislumbre pecaminoso se fez tentação minha audaciosa visão. Vi, refletido entre linhas tortuosas – todo percurso que deveria trilhar: respirei, investi, arqueei-me e adiante fui.

A outra, já em horizontal forma tomada, fez-me nutrir tentação consumada: língua, toque, um amor feito esnobe me proporcionou. Provou-me então, depois disso, finitas foram às tentativas de tê-lo novamente.

Enfim, já é tempo de um novo outono, de um novo amor, que substitua a ausência daquele que nunca tive.

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[...]

Agora, que faço eu da vida sem você?

Você não me ensinou a te esquecer

Você só me ensinou a te querer

E te querendo eu vou tentando te encontrar

Vou me perdendo

Buscando em outros braços seus abraços

Perdido no vazio de outros passos

Do abismo em que você se retirou

E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?

Você não me ensinou a te esquecer

Você só me ensinou a te querer

e te querendo eu vou tentando me encontrar

E nesse desepero em que me vejo

já cheguei a tal ponto

de me trocar diversas vezes por você

só pra ver se te encontro

[...]

Caetano Veloso