"Você não me ensinou a te esquecer"
Das formas que me fiz em ti, duas delas hei de narrar: a que boquiaberta me deixou e aquela em que, apaixonada, entreguei-me.
A primeira, por análise e atração, foi marca da minha insanidade. Num vislumbre pecaminoso se fez tentação minha audaciosa visão. Vi, refletido entre linhas tortuosas – todo percurso que deveria trilhar: respirei, investi, arqueei-me e adiante fui.
A outra, já em horizontal forma tomada, fez-me nutrir tentação consumada: língua, toque, um amor feito esnobe me proporcionou. Provou-me então, depois disso, finitas foram às tentativas de tê-lo novamente.
Enfim, já é tempo de um novo outono, de um novo amor, que substitua a ausência daquele que nunca tive.
--------------------------------------------------------------------
[...]
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar
E nesse desepero em que me vejo
já cheguei a tal ponto
de me trocar diversas vezes por você
só pra ver se te encontro
[...]
Caetano Veloso