Estranho no ninho
Lá está ele atrás do balcão,
em seu silêncio de pedra
vendendo guloseimas e cervejas
enquanto sua alma passeia
pelos campos da patagónia, pelos pampas
ou pelos subterrâneos de Bueno Aires
por onde perambula os personagens
de Ernesto Sabato.
Os homens bebem cervejas e falam trivialidades,
ele imagina a configuração dos astros da noite
que não tardará. Em que casa estará a lua,
ah! o brilho da primeira estrela.
Lava os copos, passa o pano no chão,
pensa na menina atirada pela janela,
interpreta o semblante do pai e da madrasta,
contrai levemente os lábios, olha de lado como se tivesse falando com alguém num tom de lamento reflexivo, balança a cabeça e exclama para si mesmo: Não existe mais sentimento de culpa, a morte éstá banalizada, parece que tudo é permitido.
Termina de limpar o chão e o balcão e pensa no grande sertão. Imagina um fim de tarde sob um vento maiozinho, e ouve um grito que ecoa de alguma vereda escondida da memória: DIADORIM... DIADORIM..DIADORIM...
Ele está lá, atrás do balcão, mas seu lugar é em outro lugar: seu lugar
é onde florescem os lírios, na beira dos rios onde brincam as fadas, os faunos e as criaturas dos sonhos.
Como outros poucos que conheci dos livros e dos filmes ele padece da síndrome da insustentável leveza do ser.
Ao meu amigo Alemão.