Cartinha Singela
Amigo do peito,
Minha pena acordou saudosa
Vontade de escrevinhar
Uma cartinha singela
Lembrando que lhe gostar
É como tecer alegrias
Bem bordadinha de azul
Pra poder se embelezar
Nas tardes de Ave-Marias
Bem aos pés do santo altar
A minha esperança de vida
Anda tão apagadinha
Tão esmiuçadinha
Me envergonho em comentar
Assim, para um amigo do peito
Que me ensinou a sonhar
Com terno de linho branco
Concertina afinada
Moça de interior
Que gosta de filharada
Queria contar uma coisa:
(O amigo é a melhor confissão)
Quem tem um amigo do peito
É como tivesse outro irmão!
Hoje um tiquim de saudade
Me afoga em grande aflição
É a lembrancinha dela
Que desfolha o meu coração
Acaso tem visto aquela
Criaturinha formosa
Mais rosa que as outras rosas
Por quem suspirei de amor?
Acaso ela ainda tem viço
Tem cheiro de grama molhada
Boca de amora madura
Vive de alma lavada?
Ai, amigo do peito!
Pudesse eu dar volta no tempo
Pudesse a Deus enganar
Buscava os olhinhos dela,
Os dedos, as mãos, as costelas
Pra poder me namorar!
Pudesse, amigo do peito,
Pudesse a Deus enganar
Eu revirava esse mundo
Fazia ele ajoelhar
Até me pedir perdão
E ele também perdoar
Ai, amigo do peito!
Cê sabe das minhas dores
Dos meus descaminhamentos
O peso dos meus andores.
Ai, amigo do peito!
Eu tenho uma dor tão singela...
Me mande umas letrinhas
Que traga notícias dela!
Recadim:
Não se incomode com a minha tristeza.
Amanhã ela vai me acordar sorrindo,
Que nem ararinha noivando
Querendo se acasalar.
"Brigadim do queijo de boa cura,
E da medalhinha de Nossa Senhora."
João das Flores