O SOL PASSEIA SOBRE O APRENDIZ
A manhã outonal está linda e o sol olha-me piedosamente. Pelo viés de seu olhar deve estar sussurrando às nuvens: – que dó eu tenho deste vivente! Mal levantou da cama e está novamente a tentar decodificar o mundo. Esquece que o verbo viver é intransitivo. Sossegaria se os tempos fossem justos e afáveis? Enquanto isso, o planeta faz o seu passeio sobre o eixo e a lua tímida cerrará suas pestanas em meio ao lusco-fusco do poente. Questiona o capetinha, de permeio na cabeça do aprendiz: – a principal destinação do humano ser seria a condenação ao sentir? E vem à sua lembrança a impositiva voz do poeta/cantor depondo ao perpassar do tempo: “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Realmente viver é intransitivo, porém não quer dizer que o aprendiz deixe de se fazer acompanhar do que lhe faz falta, do que, no mundo das afeições, realmente importa.
– Do livro inédito O AMAR É FÓSFORO, 2012/20. Revisado.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/946851