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Pela rádio das alterosas, entre montanhas verdes,

cheias de moscas esquisitas, vou noticiar-me (tanta audácia!).

Hoje eu fui mais de mil. Mil serviços não remunerados.

Então, não aposentarei tão cedo.

Não há nada de novo. Apenas a mesmice de sempre.

Aqui chove de hora marcada.

Eu durmo sem notificação.

Se fechar os olhos, até mesmo de frente ao micro,

caio em sono profundo.

Também venta de hora marcada.

Geralmente antes das chuvas.

Meus cabelos continuam os mesmos.

Finos, lisos demais, sem graça alguma.

Minhas gargalhadas não seguem horário.

Nenhum horário.

Até dormindo eu gargalho...

Ora veja, devo sonhar maravilhosamente bem!

Tenho feito todos os exercícios físicos que me recomendaram.

Faço-os mentalmente e me canso tanto que penso em parar.

Ora, eu lhe falei das flores que desabrocharam em meio às chuvas?

Pois é. Estão tão úmidas que talvez não agüentem nem o orvalho.

Vão melar...

Ah! Sabe o que eu descobri?

Descobri que sou insaciável.

É uma fome insuportável de tudo.

Do saber ao não saber.

Isto é, do que sei e do que não sei.

E como ainda tudo não sei,

talvez amanhã, quem sabe ?

Amanhã eu saberei.

E viva, por isto, a esperança...