MEU PARAÍSO

Meu paraíso restringe-se a um cantinho de terra à beira mar;
onde tenho sonhos com tsunamis;
lá é minha possibilidade real de sonho;
minha fuga concreta;
em meio à restinga de Marambaia;
onde um dia erguerei minha choupana;
e mergulharei num mar de plástico;
meu paraíso cheira a lama;
onde piso no capim;
enfio o pé na areia fofa e branca;
e tenho bicho de pé;
onde fujo do azedume da urbe;
em dias de quarta-feira de cinzas;
onde ouço Lilli Marlene;
na voz de Dietrich;
ou Kurt Weil;
ou Noel;
em tardes de solidão;
em noites ao léu;
fico plantado como coqueiro no estuário do atlântico;
meu paraíso é tal e qual;
menor do que os meus grandes sonhos;
que jamais realizarei;
mas lá cintilam estrelas só pra mim;
absorvo ar puro;
nas noites frias de agosto;
onde a brisa do mar faz meu espinhaço ter calafrios;
cheiro de sal;
onde escuto apenas o barulho das ondas;
e a coruja Rasga Mortalha canta;
onde colho maturi e faço uma moqueca;
com azeite de dendê;
e convido você para passar o domingo comigo;·. 

 
Labareda
Enviado por Labareda em 14/04/2008
Reeditado em 13/06/2014
Código do texto: T945666
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