Cena triste
Cena triste
Sentada num banco da praça, a mulher segura o filho no colo. Suas mãos encarquilhadas, num gesto triste são erguidas aos transeuntes.
A cada estalido sobre as folhas caídas ao chão, ela se coloca a postos, esmolando...
Quando a criança chora, ela lhe dá o peito, que ele suga verozmente, e o desespero no rosto da mãe, deduz nenhum leite ali mais encontrar. Depois, a pobre criaturinha dorme.
Desanimada, a mulher levanta e caminha lentamente... Daí fico surpresa, além do filho em seus braços, em seu ventre há outro ser em formação!
Com as poucas moedas reunidas, entra num bar, compra alguma coisa e dá a criança.
Da distância onde estou, não me permite saber o que foi... e a criança que mal consegue engolir, faz ânsias de vômitos.
Anoitece.
A mulher continua seu caminho sem chegar a lugar algum, e na calçada nos arredores da praça, debaixo de uma marquise, estende seus trapos fazendo uma cama no chão frio e duro. Sobre a cama estende o pequeno e com o calor do seu corpo tenta protegê-lo do frio, da chuva, da noite e suas sombras...
Um quadro triste exposto a mercê da sorte. Que sorte?
Ao redor, alheio ao contraste daquela cena, um bairro nobre, que em berços aquecidos dormem tranquilamente, cachorrinhos de raça, de estimação.
Durante a madrugada, a mulher acorda sobressaltada, aperta o filho em seus braços. Com o peito ofegante, eleva os olhos ao céu, parece fazer uma prece muda e chora toda sua desgraça. Seu corpo é sacudido por soluços baixinhos e suas mãos acariciam o ventre, parecendo se agarrar a um fio de esperança.
Não posso ver o brilho em seu olhar, a noite está escura. Deita-se junto ao pequeno cadáver e adormece...
Quando amanhece, os raios de sol vêm aquecendo o dia e já não existe o vestígio da noite fria e chuvosa. As pessoas no vai-e-vem do cotidiano, passam indiferente à cena degradante da miséria humana, sem perceberem que ali, naquela calçada, jazem os corpos de três criaturas: Mãe, filho e feto, que abraçados estão como se não quisessem se separar.
Daquela janela do hospital vi todo esse quadro desenrolar à minha frente sem poder fazer nada...
Desço do quarto , onde minha mãe está internada, chego a calçada, peço ao comerciante que abria a loja que telefone para o resgate. Já não se podia alterar o curso da vida daquelas criaturas...
Estranho destino! No rosto da mulher havia um sorriso de agradecimento: sua prece fôra atendida. Já não sofrem mais...
( Texto do E-livro Vendavais)