Amor como item de oferta?
“Promoção que oferece demais: sempre desconfie.”
Nunca havia passado por uma situação como a de ontem e, com ela e por ela decreto o fim. O rompimento indigesto e indesejado de uma coisa inexplicável, indefinida e por vezes considerada sem sentido.
É certo, eu sei, e até minha analista me diz: “Se permita viver com mais leveza, não deixe as coisas te pesarem com tanta responsabilidade, com tudo certinho, no seu devido lugar...” Não comecei a achar que depois dessa eu deveria levar uma vida insana e profana, mas deixei tudo como estava indo, daquele jeito mesmo por achar que isso era deixar as coisas acontecerem, era viver aquilo que eu estava sentindo sem me preocupar muito se estava certo, errado, bonito ou feio. Mas ontem não. Ontem eu senti a dor de passar pelo ridículo. Sim, porque a cena teria sido hilária se não tivesse sido trágica. Trágica pra mim, é claro, e pra mais ninguém. Hilária com certeza se se tornasse pública ou pelo menos chegasse aos ouvidos ou aos olhos de “alguém”. E poderia até causar (e deve ter causado!) um sentimento de pena e compaixão também. Humilhante. Um roteiro perfeito e digno de filme, novela ou videoclipe daquelas músicas românticas e bregas que a gente sempre escuta quando está com dor de cotovelo.
Eu, hoje, exatas 16 horas e meia depois do que aconteceu (e ontem também!) tento achar engraçada a cena. Talvez um dia eu consiga, mas hoje ainda não. Hoje ainda dói e dói fundo. Meus olhos amanheceram daquele jeito e ontem ardiam enquanto eu tentava dormir. Fiquei deitada no escuro repassando tudo na memória, tudo que pensei e planejei desde o dia anterior, como fiz as coisas que fiz, tudo o que aconteceu do jeito que aconteceu, sempre finalizando com o quanto me senti ingênua e até burra e chorei. Chorei sem parar. Não cumpri a promessa que fiz, mas era inevitável, insuportável. A dor era tanta que não poderia caber em mim. Chorei a percepção de como ficamos vulneráveis e entregues quando estamos apaixonados. E chorei a confirmação de que o amor vem sempre carregando uma pitada de dor à tiracolo.
Se o amor fosse item de oferta na ocasião de alguma promoção, arrisco dizer que o slogan seria mais ou menos assim:
“Somente hoje: ouse se apaixonar e leve todas as vantagens de sentir o amor dentro de você e seja feliz! Ame e seja amado! E mais: Ganhe ainda um brinde exclusivo especialmente feito para você!”
É quando você aperta os olhos e logo abaixo da oferta de letras garrafais, com muito esforço (porque, claro, além de ingênuo você é míope...), consegue discernir letras miúdas e ingratas que dizem “discretamente”:
“*Brinde Grátis: uma caixa de band-aid ou analgésico (a escolher), para aliviar aquela dor aqui e ali, bem de leve ou mais profunda, como preferir.”
PS. Hoje estou descrente, estou doente. Estou completamente adepta daquele pensamento de que é melhor recuar dois passos antes de dar o primeiro, porque assim o tombo pode ser menor.
PPS. A gente tem mesmo esses momentos de descrença no amor, mas até isso é válido porque nos faz sentir e confesso que até assim eu fui feliz por me sentir viva... Além disso esse texto hoje já é velho e eu estou mais feliz do que nunca! O melhor desses momentos é justamente que eles são momentos e não duram pra vida inteira.
"Meu amor, a noite foi maravilhosa. Ainda bem que a gente tem a gente..." (Fernanda Mello)