[O Teu Mal É...]

Levar-me muito a sério;

levar-te pouco a sério;

não saber que, se "eu"

não fosse o centro do mundo,

eu nem seria humano...

devo presumir-te ingênua?!

[E eu, com meu aberto sorriso,

confesso-me frágil, humano,

mesmo sabendo que assim

arruíno-me ante os teus olhos!].

Ah, a minha mais recente descoberta:

meus olhos são castanhos... esverdeados!

Pode?! Pode sim, e já foi matéria de poema!

Do verde que havia nos olhos de meu pai,

eu recebi um verde imiscuído do intenso amor

pelo castanho escuro dos olhos de minha mãe...

Os meus olhos, o meu sorriso,

a minha temperatura de ser...

o que mais te falta ouvir de mim?!

Eu não te disse?! Está confirmado:

eu sou o centro do mundo!

Não te navego, não me navegas,

não tens um porto em mim,

não tenho um porto em ti;

navegamos ao mútuo descuido!

A vibração da carne, o cheiro,

o rubor das faces atônitas,

os olhos nos olhos, os sorrisos:

tudo, sim, tudo isso nos falta!

Não — de nada me acuses:

eu não engendrei a tua presença,

mas apenas a minha ideia de ti;

será que, agora, a minha ideia de ti

está voando alto, bem alto,

e para longe de mim? Será?...

[O teu mal, o teu maior mal

é levar-me muito a sério...]

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[Penas do Desterro, 09 de abril de 2008]