A chuva me ensinou a chorar.

Em dias de chuva a vida ganha nuances diferentes. Tudo fica mais poético e acolhedor, as paredes e as árvores vestem-se com matizes outras. Os livros ganham mais sabor, por causa do tempero do clima. Em dias de chuva minhas palavras mostram-se nuas e felizes, tristes e despudoradas, minhas palavras tornam-se ainda mais paradoxais, mais minhas. Torno-me mais íntimo de mim, converso com meus medos, ponho pra dormir as ausências, passo café a dois. Em dias de chuva sou mais companhia, me dou as mãos e saio num passeio íntimo. Em dias de chuva minha solidão sai para fluir, gosta de ser acarinhada pelas mãos do vento, de sentir as pálpebras da brisa. Delírio.

Passei a chorar em público em um dia de chuva, ou melhor, em uma noite de chuva. Por acreditar que ninguém me perceberia chorar. Passei a chorar em público quando a noite também chovia, quando a noite escorria por sobre minha face e olhos, umedecendo meu olhar translúcido. Meu olhar nunca anoiteceu tanto. A chuva é uma tristeza chorando. A chuva me ensinou a chorar.

Em dias de chuva serenam meus olhos sobre a nudez do tempo. Em dias de chuva meu olhar também chove, meu olhar me chove.

Chove minha alma comovida.

Alessandro Palmeira
Enviado por Alessandro Palmeira em 08/04/2008
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