VENTANIA INCONSEQUENTE (II)
Janeiro do ano 2000
(Confesso que o meu estado de espírito foi se modificando, apenas com a insistência de um olhar.)
A crença.
É bem provável e eu acho bem possível que, esse sentimento gravado por meio de símbolos no inconsciente tenha as características de cunho divino ou, quem sabe, uma imanência própria do imponderável, talvez esteja ali sem que ainda compreendamos uma fagulha do sobrenatural, portanto, totalmente inescrutável.
Há muito eu nutri esse sentimento e o achava quase inefável, assim como o descrevi acima, sendo assim, ele ainda permanece muito além da minha capacidade de entendimento.
E nesse envolvimento eu me atirei de corpo e alma, dedicando-me sinceramente e inteiramente, infelizmente, o que me adveio foi uma vazia frustração e um duro desengano.
Pois nesse suposto amor não havia cumplicidade, somente deu-se lugar para inesperadamente germinar as amarguras e as decepções, assim fazendo nascer do tortuoso envolvimento a inevitável natureza da derrota que, por um tempo, desequilibrou a minha vida.
Eu confesso sem medo que ultimamente tenho notado e parece que está surgindo uma nova oportunidade, assim eu penso e tenho a impressão que “alguém” está abrindo uma nova porta ou uma nova revelação desse insondável sentimento.
Todavia, eu vejo nessa mesma porta que supostamente sugere um paraíso, dois Querubins ameaçadores com as suas espadas flamejantes proibindo-me o acesso.
Entendo perfeitamente em virtude da minha feitura idílica, ser esse sentimento de origem boa e conseqüentemente agradável, entretanto, eu não tenho a plena certeza se o quero novamente dividindo a minha vida.
É verdade que estou tomando todos os cuidados, pois estou desconfiado que ela acabe descobrindo o meu envolvimento por essa fagulha metafísica que popularmente é chamada de amor, e que para espanto meu, é dela que parte esses relâmpagos desequilibrantes e invisíveis.
Confesso que às vezes até quero que ela venha saber, mas, ao mesmo tempo eu tenho medo de que com uma confissão, essa aventura possa se transformar num relacionamento desarmônico, quebrando assim abruptamente toda a magia e o encantamento próprios dessas ocasiões.
Eis o meu temor!
Essa esfinge linda e misteriosa que está se aproximando com todos os cuidados, certamente, com alguma finalidade está pretendendo me decifrar, a fim de que eu não venha lhe devorar na primeira esquina da vida.
Fico imaginando que até posso compartilhar esse envolvimento com ela, todavia, eu prefiro que esse sentimento incrível ou essa simpatia recíproca desapareça com o tempo, pois não quero demonstrar essa reciprocidade total, ainda mais que ela espera de mim um consentimento para entregar-se.
Concordo que as minhas dúvidas são muitas e a minha razão vive sempre elaborando conceitos estranhos sobre o sentimento do amor, fazendo com que eu não dê atenção às minhas emoções, e assim, eu vivo dominado e algemado pela minha própria razão.
Entendo perfeitamente bem que a minha razão sufoca as emoções, por isso, necessito urgentemente bloquear a razão para deixar fluir livremente os reclames da alma que estão represados.
Deve haver uma resposta prática para tudo isso, mas se não houver, fica descartado qualquer hipótese ou possibilidade com relação ao surgimento de algo novo que se possa chamar de amor.
Fica evidente que a nossa razão tentando explicar-se cria situações que não desejamos, no entanto, lá do fundo da alma as emoções palpitam situações de amor e venerabilidade com as sonhadas vivências platônicas.
Na próxima prosa-poética: VENTANIA INCONSEQUENTE (III), eu confessarei que as emoções acabam, finalmente, bloqueando o reducionismo árido da razão.