Cadeira de Balanço

A dor cobre meu corpo com casca inexata. Sabe que gosto das cores certas, do conhecimento certo, do alvo certo.

Essa casca que cobre meu corpo, não é assim tão dura. Pior é a dureza do coração.

Não acreditar mais nas cores é perder de vista a esperança.

Por que haveria de ser assim?

Tudo bem, eu me descasquei toda; arranquei com as unhas os meus pedaços – eu precisava sobreviver à imensa falta de palavras. Até a rubrica servia.

Mas nada chegava nos tempos mornos em que eu suplicava por tua presença.

Deus! Que deserto queimou meu corpo. Lá não existia sol. Era deserto de vento.

Arranquei assim, meus pedaços de coro, como se quisesse, me transformar em uma cadeira. Sem sentimentos.

Como deve ser doce, ser calmo e bonito um coração sem arranhão. Um coração de criança.

Eu me esforcei – fiz de tudo para não perceber. Mas ela, a dor...Surdina e fria fez de mim assim, parecida, não com uma flor, meu sonho; não a um passarinho, meu ideal...

Ela me fez parecida com uma cadeira.

Sou forte. Sirvo ainda para embalar um bebê; um ancião. Sirvo de lugar a quem deseja sentar e sonhar, olhando um lindo pôr-do -sol.

Sirvo, sim. Confie – tenho a perfeita solidez...Discreta e pacata, sem encantos desnecessários.

A contento:

Virei cadeira.

Verônica Aroucha
Enviado por Verônica Aroucha em 02/01/2006
Código do texto: T93251
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