DERRAMANDO AREIAS
DERRAMANDO AREIAS
Marília L. Paixão
Na linha do asfalto negro a tristeza ia ficando para trás.
Não havia lua linda e nem lua feia enquanto ela não brilhava.
De qualquer forma ia aprendendo que cada um valia o que transportava
Mas já não carregava nem ouro ou prata.
A cultura fácil só possui quem nasce em berço de ouro e aprende a usar
A cultura difícil só possui quem cava seu próprio ouro sem se escravizar
Parou e olhou as mãos que não provaram da enxada ou do vazio
Mas que já haviam provado de vidraças americanas e das graças e desgraças da educação brasileira
Ainda assim pertencia a uma bem pobre classe média um tanto orgulhosa
Gostava do que tinha e do que não tinha
Possuía um pé rico e um pé pobre
O pé pobre sabia bem por onde andava enquanto o pé rico sonhava
Um dia escreveu que não mais queria dor e passou a sentir menos
Depois escreveu que não mais queria sentir menos por sentiu-se só demais
Solidificou-se na literatura enquanto muita areia derramava.
A lua assim voltava a ser prata.