DERRAMANDO AREIAS

DERRAMANDO AREIAS

Marília L. Paixão

Na linha do asfalto negro a tristeza ia ficando para trás.

Não havia lua linda e nem lua feia enquanto ela não brilhava.

De qualquer forma ia aprendendo que cada um valia o que transportava

Mas já não carregava nem ouro ou prata.

A cultura fácil só possui quem nasce em berço de ouro e aprende a usar

A cultura difícil só possui quem cava seu próprio ouro sem se escravizar

Parou e olhou as mãos que não provaram da enxada ou do vazio

Mas que já haviam provado de vidraças americanas e das graças e desgraças da educação brasileira

Ainda assim pertencia a uma bem pobre classe média um tanto orgulhosa

Gostava do que tinha e do que não tinha

Possuía um pé rico e um pé pobre

O pé pobre sabia bem por onde andava enquanto o pé rico sonhava

Um dia escreveu que não mais queria dor e passou a sentir menos

Depois escreveu que não mais queria sentir menos por sentiu-se só demais

Solidificou-se na literatura enquanto muita areia derramava.

A lua assim voltava a ser prata.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 03/04/2008
Reeditado em 03/04/2008
Código do texto: T929536
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