Da imprudência de cantar o amor
Me proteja da dor de escrever que ainda sou moco
Eu não quero estar só e louco a luz do amanhecer,
Ainda que carregue comigo os tantos pergaminhos
E saiba ler a dor em almas rotas e olhos perdidos
Cegue-me agora a vista, decepe-me já as mãos
Não me seja concedido vil tentacão de decifrá-los
Não me permita filosofar sobre as dores do amor
Não permita relatar aquilo tudo que penso saber
Não permita escrevinhar o sofrimento que passei
Pois o amor é um labirinto que cada um deve viver
É a navalha que a carótida vai sem medo afrontar
O verso impreciso que o poeta não sabe terminar
Um rio onde cada qual ao seu modo vai se lancar
Em mares de saudades desesperadamente se afogar
É uma história de dor que só quem viveu pode contar
Detenha-me e deixe-me deixá-los como estão
São objetos velhos trancados em velhos baús
Deixe que eu deixe o que é sagrado guardado
Não é direito abrir o coracão de um homem
E expor a luz do dia os tantos sentimentos
Proteja-me da dor de escrever que ainda sou moco