"Felizes os que..."

"Felizes os que podem mover facilmente os olhos, sem os ver transbordar (...)"

Cecília Meireles

Acordai-me!

Nunca mais o silêncio dos rastros

dos que não passaram pelos caminhos.

Do que lancei pela luz das quimeras,

e fragmentou-se como astro morto,

espargindo seu rosto,

para fazer buracos profundos e tortos

nessa minha pele de terra.

Acordai-me!

Nunca mais o sândalo doloroso

das decantadas primaveras

onde o próprio corpo do trigo

pedia mãos para se fazer pão e abrigo

na esperança das esperas.

Acordai-me!

Os olhos se movem

e não se resolvem,

porque há ainda água demais

que assombra, que relembra,

que embebeda,

que gela!

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 24/03/2008
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T915115
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