O leão e o relógio
O leão ruge. E ruge alto. Cada vez mais, dentro de cada um de nós. Todos temos os nossos leões. Uns mais domesticados, outros mais selvagens. Porém, todos são leões. E todos rugem. Às vezes mais, às vezes menos. Mas eles estão lá, aí e aqui. A sua aparição se dá por meio do que ocorre dentro da gente. Se nós pressionarmos o território dele, que é dentro da gente, ele dá sinal de vida e fala que tem algo de errado. Nesse momento é que ele mostra o motivo de existir. É um sinal, que diz que as coisas não estão indo bem. À medida que a cobrança à nossa volta se torna maior, mais ele se torna visível. Ou audível, se preferir. Mas isso não fica assim pra sempre. Afinal, que conseguiria sobreviver assim por tanto tempo? Não, depois que tudo volta ao seu lugar, a fera se acalma e tudo fica mais uma vez em paz.
O relógio tiquetaqueia. O pêndulo abaixo dele faz com que ele não deixe de se mover. Sempre assim: para lá, para cá; para lá, para cá... Contando o tempo que você não percebe passar, ele segue essa sina que lhe foi imposta. Quando chega certa hora no relógio, chega também certa hora para o humano o qual ele pertence. Não que duas horas neste sejam duas horas no segundo. Não, por exemplo, duas horas podem significar o primeiro beijo. E assim segue o relógio, marcando cada momento na vida daquele que o detém. Nunca com a mesma rapidez de outros. Relógios diferentes possuem donos diferentes, por conseqüência, marcam horas diferentes.
O meu leão está me dando nos nervos de tanto rugir e o meu relógio parou de funcionar.