Irremovível

Irremovível

O tempo se esvai, tanto na areia que escorre pelas mãos, incapazes de retê-la, quanto na ampulheta que brilha como uma torre de cristal absolutamente inacessível.

A roca continua esticando o fio observada pelas Moiras, as pedras silenciosas acumulam a memória dos dias, os espinhos, arquétipos da dor, testemunham o sacrifício das pétalas que se desfazem por amor.

O futuro atropela o presenteexilando-o no passado, apagando memórias mais antigas e desfazendo sonhos e desejos adormecidos.

As dunas dançam no deserto mascarando suas essências, as marés tomam e devolvem terras numa negociação sem fim.

O vento conta sempre novos segredos as árvores e dissemina histórias a serem eternizadas em galhos e folhas.

O mundo gira, mudam as perspectivas, trocam as cores dos jardins, tudo passa, menos você, que não sai nem por um átimo de dentro de mim.

E ficamos assim, distantes fisicamente, buscando olhos perdidos nas estrelas e me contento com sua voz ecoando nos labirintos do meu coração e com declarações dúbias em antigas canções até uma nova primavera ou uma eventual inédita quimera.

Leonardo Andrade