Quem sou eu para dizer que não fique triste?
Estou procurando uma sombra para sob ela me deitar,
e descansar minha alma que está encharcada,
embarcada numa tristeza que não vejo o porto final.
Nunca quis ser nenhum rochedo... sua expressão é eco.
Não, não sou uma rocha, tampouco uma tocha que ilumina coisa alguma.
Sou aquela faísca que só se vê no reflexo.
É certo que eu assuma minha tristeza, ela não é maior nem menor que a sua.
Tristeza, o que não sei é se justa ou não.
Até para ficar triste é preciso ter um pouco de decência.
Ficar triste com dignidade...
Parece uma proposta louca que me faço.
Procuro meu obscuro na pele alheia,
depois tento encontrar-me num ponto maior de lucidez.
Eu olho minha casa...
presto atenção aos móveis,
observo a diversidade das cores dos sapatos.
sinto meu enjôo diante da geladeira.
A minha frescura diária.
Não fica fácil justiçar meu desalento.
Na tela aonde vejo minha imagem, iluminada pela luz, sou.
Luz... de uma lâmpada acesa ou do sol que é grátis, ainda.
Olho-me suspeitando-me.
Dou-me ao luxo do lixo, compro inutilidades.
Eu jogo fora. É, eu posso rir de mim...
Coisas, objetos, sentimentos que aceito passivamente...
Ódio alheio que escuto destilado nos meus ouvidos,
lamúrias por conta de sofás,
amores mal-humorados por não serem recíprocos,
a diária contestação dos juros do crediário.
E aqueles outros que vão acrescentar;
as amizades se apresentam,
amenidades me são enviadas,
bondades não requisitadas,
amores souvenires.
Doação.
Mesmo assim uma teimosa tristeza permanece em mim,
e, com uma absoluta falta de caráter.
Meu amadorismo faz com que eu role de rir da minha cara.
De forma alguma quero ser queimada numa fogueira, não mesmo!
Não me condeno pelo que sou, apenas tento entender,
compreender o que vem a ser esta pessoa que reside em mim.
Tenho prazer em ir desvendando essas estranhas que sou a cada dia.
A cada situação, a cada reação inusitada, a cada questionamento, sou.
Então vejo uma probabilidade aceitável e amoldável da irritante insistência de ser.
É, o fato é inegável, quero continuar sendo e em lugares bem arejados.
Terei mesmo que esperar a estação passar.
Ainda que tudo esteja de ponta-cabeça,
o calendário insiste que depois do verão será outono.
Então, por ora, fico com o inferno que se alojou no meu coração
Certamente é bagunça hormonal...
Tão idiota como possa soar, viver é vital, meu chapa!