MEDITAÇÃO NA SEXTA SANTA



Tenho trabalhado muito.

Sob meus pés,

sempre o mundo, de passagem.

Há algo de azul em meus olhos

apesar desta fria distância

dos olhos que já sorri.

Este encontro

de dias cinzentos

sob línguas de fogo

que engendram melancolia.

Retocar a maquiagem

dessa chuva triste

para que a Terra

chore em Deus

seus desagregados.

 

Tudo é como num romance:

triste, maravilhoso e inverossímil.

Mas em uma gruta

há um deus

e não entro sem bater

para forjar meus dedos

na humildade.

E há também esse sono humano.

Estar só e despojado:

confuso mistério

de ser livre.

 

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 21/03/2008
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T910821
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