MEDITAÇÃO NA SEXTA SANTA
Tenho trabalhado muito.
Sob meus pés,
sempre o mundo, de passagem.
Há algo de azul em meus olhos
apesar desta fria distância
dos olhos que já sorri.
Este encontro
de dias cinzentos
sob línguas de fogo
que engendram melancolia.
Retocar a maquiagem
dessa chuva triste
para que a Terra
chore em Deus
seus desagregados.
Tudo é como num romance:
triste, maravilhoso e inverossímil.
Mas em uma gruta
há um deus
e não entro sem bater
para forjar meus dedos
na humildade.
E há também esse sono humano.
Estar só e despojado:
confuso mistério
de ser livre.